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    Leandro Colon

    Dilma teve tempo para barrar impeachment, disse Renan a petistas

    10/05/2016 08h36

    Por volta das 14h30 desta segunda (9), estavam à mesa da sala de jantar da residência oficial da presidência do Senado o seu presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores petistas Humberto Costa (PE), Paulo Rocha (PA) e Gleisi Hoffmann (PR), além de Vanessa Grazziotin, do PC do B-AM.

    Na antessala, aguardavam a vez o senador Raimundo Lira (PMDB-PB), presidente da comissão especial do impeachment, o líder da bancada do PMDB, Eunício Oliveira (CE), e o senador Omar Aziz (PSD-AM).

    Renan chegou a convidar Lira a participar da conversa com a bancada governista em razão de sua função no caso do afastamento de Dilma. O peemedebista preferiu ficar de fora.

    Os petistas queriam sentir, sem muito entusiasmo, se havia chance de um sinal positivo de Renan no sentido de manter a decisão (que agora nem existe mais) do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular o processo.

    Renan estava furioso com a manobra do deputado maranhense. Os petistas desejavam ao menos que ele consultasse o STF (Supremo Tribunal Federal). Queriam só ganhar tempo.

    Mas o presidente do Senado deu logo a real: de nada adiantaria postergar. Afinal, frisou, foi a base do governo que falhou na Câmara, e não ele. E o jogo no Senado está perdido, avaliou.

    Segundo Renan, Dilma teve quatro meses para conseguir 172 votos na Câmara (número suficiente para barrar o impeachment), e não conseguiu. Afirmou ainda que não seria ele quem iria resolver isso, segundo relato de dois dos presentes ao encontro. Eduardo Cunha (PMDB-RJ) aceitou o pedido de impeachment no dia 2 de dezembro e a votação ocorreu em 17 de abril.

    Os petistas capitularam. Renan falara a verdade: não é dele a responsabilidade pela derrocada do governo. Afinal, o Palácio do Planalto fracassou e passou longe dos 172 votos de deputados necessários para evitar que o processo chegasse ao Senado. O placar na Câmara foi de 367 a favor e 137 contrários.

    O senador disse ainda aos colegas que se sentia "constrangido" em levar o afastamento de Dilma adiante, mas não tinha outra alternativa que não fosse manter o rito. Caso contrário, sofreria uma pressão externa enorme e seria desmoralizado pelo plenário, em sua maioria a favor do processo. Por último, criticou duramente a aliança (que também, ao que parece, não existe mais) AGU-Waldir Maranhão no episódio.

    Os senadores petistas levantaram-se da mesa e entraram em seus carros oficiais. Sabiam que Renan anunciaria pouco depois sua decisão a todos os senadores.

    Foi só cruzar o portão da residência oficial da presidência do Senado para o líder da bancada, Paulo Rocha, telefonar ao ex-presidente Lula, como revelamos na edição impressa da Folha desta terça (10).

    Fez uma consulta se o ex-presidente poderia fazer um último apelo. Lula recusou. Disse que não conversaria por telefone com Renan sobre este tipo de assunto. O ex-presidente afirmou que seria uma questão jurídica demais para se falar por telefone, segundo relato de Paulo Rocha a outros senadores.

    Na saída do plenário, após a sessão, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) estava visivelmente esgotado pelo debate que travou com Renan e a oposição. Cochichou no ouvido de Humberto Costa: "Agora é quarta mesmo, não?". Costa só balançou a cabeça positivamente.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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