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    Leandro Colon

    Em cinco dias, governo Temer acumula episódios evitáveis

    17/05/2016 02h00

    O governo interino tem cinco dias de vida e já acumula episódios estranhos e evitáveis para um político experimentado como Michel Temer.

    Três deles vieram à tona em um dia só.

    O Diário Oficial trouxe a nomeação de Gustavo do Vale Rocha para a subchefia de assuntos jurídicos da Casa Civil.

    O novo assessor palaciano carrega no currículo, assim como o ministro Alexandre de Moraes (Justiça), uma advocacia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o hoje presidente da Câmara afastado de suas funções - incluindo do mandato - pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

    Graças à articulação de Cunha, Rocha foi indicado em 2015 pela Câmara para ser um dos 14 integrantes do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), órgão que atua no controle externo do Ministério Público.

    A assessoria do CNMP informou que ele deve acumular a função na Casa Civil com o cargo de conselheiro, cujo mandato termina em 2017: "Não temos nenhuma informação de que vai renunciar ao posto". Procurada para se manifestar, a assessoria da Casa Civil não respondeu até a conclusão desta coluna.

    Um decreto enumera as tarefas do cargo de Rocha no Palácio do Planalto, entre elas zelar pela "constitucionalidade e legalidade dos atos presidenciais" e "supervisionar a elaboração de projetos e atos normativos de iniciativa do Poder Executivo".

    Se ele continuar no CNMP, terá então uma função de extrema relevância no Palácio e, ao mesmo tempo, a prerrogativa de fiscalizar e punir membros do Ministério Público nos campos administrativo, financeiro e (talvez o mais importante) disciplinar.

    A não ser que Rocha renuncie à vaga no conselho, será no mínimo curioso e inusitado que um integrante do alto escalão do Executivo ocupe uma cadeira em um órgão com a atribuição para avaliar possíveis erros de conduta de procuradores.

    O segundo embaraço veio em reportagem da Folha com o publicitário Elsinho Mouco, o homem por trás do esquisito e desatualizado logotipo do governo interino.

    Mouco se empolgou ao explicar a nova identidade visual da gestão federal. Contou que o filho de sete anos do presidente interino foi quem escolheu o desenho oficial. "Quando entrou na sala, ele olhou e falou 'que lindo', com uma expressão de criança mesmo, verdadeira e emocional", disse ao repórter Silas Martí.

    Tão constrangedor quanto foi o gesto de Temer para consertar a declaração do seu ministro da Justiça de que a Presidência da República não deveria, necessariamente, indicar para a chefia da Procuradoria-Geral da República o mais votado na lista tríplice tradicionalmente feita pelos representantes do Ministério Público Federal.

    A tentativa de um gol de honra veio no fim da tarde, com o anúncio da economista Maria Silva Bastos Marques para presidir o BNDES.

    A escolha pelo nome dela é uma reação de Temer para amenizar o mal estar causado pela ausência de mulheres em seu ministério - uma crise que, convenhamos, era de fácil previsão e também poderia ter sido evitada.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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