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    Leandro Colon

    Plebiscito britânico sobre UE vai expor duelo de gerações

    07/06/2016 02h00

    Além de apontar uma ligeira (bem ligeira) vantagem da campanha pelo rompimento com o bloco europeu, recentes pesquisas no Reino Unido indicam um duelo de gerações no plebiscito marcado para o próximo dia 23.

    De um lado está a maioria dos jovens em defesa da permanência do país na União Europeia (ou contra o chamado "Brexit").

    De outro, os mais velhos, principalmente os acima de 50 anos, pelo divórcio dos vizinhos.

    Um levantamento do Instituto YouGov concluído na última sexta (3) dá uma boa noção do cenário. Ao todo, 61% dos votantes entre 18 e 24 anos afirmam querer continuar integrados à União Europeia, ante 21% contrários.

    Na faixa dos 50 a 64 anos, o apoio à permanência no bloco cai para 37%, enquanto sobe para 53% os que têm posição anti-UE. Quando a idade passa de 65 anos, o percentual dos que querem deixar a Europa chega a 59%.

    Pode-se resumir a resposta para essa diferença, sobretudo, em duas palavras: economia e imigração.

    Os jovens apostam que a economia britânica é muito mais forte como membro da UE em meio a uma taxa de desemprego de 5% e um panorama de incerteza num eventual isolamento. Para eles, a aliança com a Europa mantém ainda a possibilidade de buscar novas oportunidades em outros países europeus.

    E é justamente a questão migratória um dos principais fatores que levam os britânicos mais antigos a optar pelo "Brexit". Acreditam, entre outras coisas, que a separação tende a dar mais força para o governo do Reino Unido barrar a chegada de europeus.

    O voto não é obrigatório e os mais velhos demonstram mais interesse no plebiscito. Uma reportagem do "Guardian" classificou de apática a postura política da nova geração. Uma apatia que pode ser fator relevante no placar final.

    "Duas semanas é muito tempo em política e qualquer coisa pode acontecer antes do dia da votação, mas é clara uma tendência mostrando que a participação eleitoral do grupo que quer deixar a UE tem tido uma vantagem sobre a campanha pela permanência no bloco", disse, em artigo publicado na segunda (6) no "Telegraph", o estrategista político Lynton Crosby, ligado ao premiê David Cameron.

    Segundo o YouGov, no somatório geral, subiu de 40% para 45% a preferência geral pelo "Brexit" e os votos pró-UE oscilaram de 42% para 41% em relação a última pesquisa. Os indecisos caíram de 13% para 11%. Foram ouvidas 3.495 pessoas.

    Mas cautela é sempre bem-vinda ao tratar de pesquisa no Reino Unido. Lembremos erros cometidos pelos institutos britânicos nas eleições gerais de 2015, quando o Partido Conservador contrariou as previsões e garantiu uma maioria consolidada no Parlamento, reelegendo Cameron sem precisar de coalizão.

    Por falar em Cameron, o premiê jogou todas as fichas a favor da permanência na União Europeia e ao mesmo tempo pôs em risco a sua em Downing Street.

    O racha no Partido Conservador é um dos legados dessa campanha, com o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, membro do Parlamento, liderando a bandeira anti-UE e a bolsa de apostas para substituir Cameron.

    Johnson afirmou na segunda (6) que o premiê ainda não explicou como vai controlar a crescente onda imigratória de europeus no território britânico. Ainda destacou o risco de o Reino Unido ter de socorrer países em crise econômica na zona do euro. Cameron revidou: disse que a turma do "Brexit" vende "fantasia política" e não conta de fato como será o país num cenário de separação da União Europeia.

    E as pesquisas não são nada boas para o premiê: segundo o YouGov, apenas 19% confiam nele em relação a seu discurso sobre o plebiscito e 31% acreditam em Boris Johnson.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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