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    Leandro Colon

    Com grande risco de errar, apostaria que Reino Unido fica na UE

    21/06/2016 09h04 - Atualizado às 10h54

    A 48 horas da votação, um palpite sobre o plebiscito de separação do Reino Unido da União Europeia é puro chute: teria hoje, em média, 50% de chances de acerto ou 50% de erro.

    As últimas pesquisas apontam para o crescimento da campanha contra o rompimento, mas o placar estaria apertado, de empate técnico. O estrategista eleitoral Lynton Crosby, um dos mais respeitados no país, disse ao "The Telegraph" na noite de segunda (20) que o resultado, no momento, é "incerto".

    Fatores da campanha e de episódios recentes no país me levariam a apostar (a chutar, na verdade) que a maioria dos britânicos vai optar na quinta-feira (23) pela permanência no bloco europeu.

    Arriscaria as fichas na tendência de grande parte dos indecisos (em torno de 10%) optar na última hora por um voto mais conservador, sob o temor do risco para a economia (como mostra reportagem de Fernanda Odilla, de Londres, nesta terça (21) na Folha), em meio a um desemprego atual de apenas 5,4% e uma inflação de 0,5%, além da incerteza no campo político diante da saída do bloco e do prazo estimado de dois anos para que a decisão seja totalmente implementada.

    Soma-se a isso o fato de que já haveria entre os chamados "votos definidos" uma ligeira vantagem a favor da aliança com a UE.

    Gareth Fuller/AFP
    Premiê britânico, David Cameron, com xícara que diz "estou dentro", em alusão ao plebiscito
    Premiê britânico, David Cameron, com xícara que diz "estou dentro", em alusão ao plebiscito

    Comportamento eleitoral semelhante ocorreu na votação de 18 de setembro de 2014, quando a Escócia decidiu permanecer no Reino Unido.

    Obviamente o contexto e os efeitos de uma separação do bloco europeu são muito mais complexos do que a separação escocesa, mas a comparação é pertinente.

    As pesquisas em 2014 mostravam um placar apertado nas semanas que antecederam aquela consulta. O instituto "YouGov", um dos mais tradicionais do país, apontava na véspera 52% de votos pelo "não" (contra a separação) e 48% pelo "sim" - sem considerar os indecisos, em 6%.

    Na noite anterior, as ruas da fria e belíssima capital Edimburgo confessavam cada vez mais o medo do que estaria por vir numa eventual ruptura com Londres.

    O medo então venceu. A campanha do "não" deslanchou e o placar foi de 55% a 45% contra a independência escocesa.

    É fato também que o clima de comoção com o assassinato na semana passada da deputada trabalhista Jo Cox, ativista pró-UE e pró-imigração, tem revelado força para ao menos neutralizar a campanha pela separação.

    Restaria aos simpatizantes do "Brexit" (expressão para a saída do bloco) torcer para uma presença em peso dos eleitores mais velhos, sobretudo dos acima de 55 anos, em sua maioria a favor do rompimento.

    Não é pouca coisa. Como o voto não é obrigatório, uma taxa alta de abstenção dos jovens, que se mostram menos interessados no plebiscito, pode influenciar no resultado.

    Até quinta-feira, o debate vai se acirrar. Em artigo publicado na noite passada no site do "The Guardian" (jornal declaradamente contra a separação), o megainvestidor George Soros faz um alerta sobre os riscos para a economia britânica em caso de ruptura com o bloco.

    Para ele, a poderosa libra esterlina corre sério risco de se desvalorizar de 15% a 20%. "Isso teria também um imediato e dramático impacto sobre mercados financeiros, investimentos, preços e empregos", diz Soros.

    Matthew Elliott, que comanda a campanha contra a permanência na UE, acusou Soros de jogar a favor do bloco europeu, a quem acusa de causar prejuízo econômico aos britânicos.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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