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    Leandro Colon

    Com premiê britânico decorativo, UE pressiona com retóricas

    28/06/2016 13h03

    Os irônicos (e sinceros) discursos de Jean-Claude Junker e Nigel Farage no Parlamento Europeu nesta terça (28), em Bruxelas, indicam o tom das relações entre o bloco e os britânicos eurocéticos até a conclusão dos termos do divórcio.

    Diante da previsão de que a negociação leve dois anos, a retórica deve prevalecer sobre medidas concretas no curto prazo.

    Até porque não há quem negocie de fato por Downing Street depois que David Cameron virou um primeiro-ministro decorativo com a renúncia anunciada para os próximos meses.

    E não há também quem fale com legitimidade pela oposição depois que o líder trabalhista no Parlamento, Jeremy Corbyn –outro que fracassou na campanha a favor da UE– perdeu o respaldo da maioria dos colegas para permanecer no posto. Seus dias (ou horas) parecem contados.

    O gesto da primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, de ir a Bruxelas manifestar o desejo de continuar na UE é muito mais simbólico, para marcar posição, e fortalecer o discurso da necessidade de um novo plebiscito de separação dos escoceses do Reino Unido.

    Enquanto Londres se reorganiza do estrago político pós-plebiscito, sobram, por enquanto, provocações.

    "Estou surpreso que você esteja aqui. Você está lutando pela saída (da União Europeia). Os britânicos votaram para sair. Por que você está aqui?, disse Junker, presidente da Comissão Europeia, a Farage, líder do Ukip, partido nacionalista do Reino Unido. Aplausos do plenário.

    "Quando vim aqui 17 anos atrás e disse que queria liderar uma campanha para sair da União Europeia, vocês riram de mim. Vocês não estão rindo agora, estão?", afirmou Farage. Vaias.

    Para aqueles que acreditam num divórcio amigável, a chanceler Angela Merkel mandou recado de Berlim: não caberá a Londres escolher o que quer do bloco europeu após a separação. Ou sai de vez ou fica, não tem essa de meio termo, ainda mais tratando-se de um país com fronteiras sob controle, moeda própria, entre outras coisas.

    A líder alemã rejeitou qualquer movimento britânico para permanecer no mercado único mesmo fora da UE. "A União Europeia é suficientemente forte para suportar a saída britânica. E forte para defender seus interesses no mundo", disse.

    Junker orientou sua equipe a não sentar à mesa com o governo britânico enquanto o país não acionar o Artigo 50, mecanismo do bloco para dar início formal a uma negociação de saída.

    Para ativar a cláusula, o Reino Unido quer resolver quem vai negociar por ele. O conservador Cameron transformou-se num morto-vivo político ao cair na armadilha e perder a aposta que fez no plebiscito que ele mesmo convocou.

    O Partido Conservador, maioria no Parlamento, deve indicar o novo premiê (o favorito hoje é o ex-prefeito de Londres Boris Johnson) somente entre setembro e outubro.

    Ate lá, os líderes da UE vão intensificar e endurecer o discurso contra quem o desprezou e contornar os riscos para que não se torne realidade a previsão feita por Nigel Farage nesta terça: a de que o Reino Unido não será o último estado-membro a deixar o grupo.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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