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    Leandro Colon

    É inacreditável como o Planalto trata ação de cúpula no caso Geddel

    26/11/2016 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 22.11.2016. O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, participa de reunião com índios no anexo do Palácio do Planalto. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER///BRASÍLIA, DF, BRASIL, 21.11.2016. O presidente da República, Michel Temer, ao lado do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, comanda a Reunião do CDES - Conselho de Desenvolvimento Econômico Social, no Palácio do Planalto. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER///BRASÍLIA, DF, BRASIL, 01.09.2016. O ministro da Cultura, Marcelo Calero, dá entrevista exclusiva sobre os seus100 dias na direção do MinC.(FOTO Alan Marques/ Folhapress) ILUSTRADA *** ESPECIAL FIM DE SEMANA ***
    Geddel Vieira Lima (esq), Michel Temer e Marcelo Calero

    BRASÍLIA - É fato que um ministro de Estado pediu interferência de outro colega de Esplanada em assunto privado dele na administração federal. E é fato que o caso recebeu as atenções do presidente da República e do ministro da Casa Civil.

    Está tudo documentado na entrevista de Marcelo Calero à Folha, no seu depoimento à Polícia Federal, em notas oficiais de Michel Temer e do ministro Eliseu Padilha, e na carta de demissão de Geddel Vieira Lima.

    São informações por escrito revelando que, em meio a uma crise econômica profunda, três dos principais atores responsáveis por tirar o país da lama discutiram durante o expediente interesses pessoais de um deles em um processo no governo.

    Em depoimento à PF, o ex-ministro da Cultura conta que relatou a polêmica sobre o Iphan e o empreendimento La Vue, em Salvador, até para a chefe de gabinete de Temer, Nara de Deus, em jantar no Alvorada. Segundo Calero, ela ficou "estupefata".

    Ele diz que foi convocado por Temer para ouvir que o episódio criara "dificuldades operacionais" porque Geddel encontrava-se "irritado".

    Temer admite ter conversado sobre o assunto com Calero. Em nota, alega que "buscou arbitrar conflitos entre os ministros e órgãos da Cultura sugerindo a avaliação jurídica da Advocacia Geral da União".

    Eliseu Padilha, que chefia a poderosa Casa Civil, também não se intimidou e afirmou por meio de nota: "Sugeri ao ex-ministro que, em caso de dúvida, na forma da Lei, buscasse a solução junto à AGU".

    Ao se demitir, Geddel escreveu: "Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados."

    Não houve "interpretações". Os três homens mais fortes do Planalto analisaram formas de solucionar um impasse em torno de um prédio onde um deles adquiriu um imóvel.

    O fato em si não chega a surpreender, tratando-se de políticos em Brasília. O inacreditável é reconhecerem a prática com absoluta normalidade.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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