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    Leandro Colon

    Crime no metrô mostra retrocesso no país que celebra a Lava Jato

    31/12/2016 02h00

    Marivaldo Oliveira/Codigo19/Folhapress
    Assassinos confessos de vendedor no metrô são transferidos pela polícia

    BRASÍLIA - Há sinais de evolução em um país que coloca políticos corruptos na cadeia e de retrocesso, numa escala muito maior, em episódios como o que matou o ambulante Luiz Carlos Ruas.

    Não deixa de impressionar a forma com que convivemos com a barbárie. Protestamos por um tempo e, de certo modo, a vida segue.

    É tenebrosa a cena da morte de Ruas, a mais impactante da última semana de 2016. Caído no chão, ele recebe socos de um homem. Um primo do agressor pisa em sua cabeça.

    O homicídio ocorreu no dia de Natal numa estação de metrô de São Paulo e foi gravado pelas câmeras do local. Durante o ano que passou, muitos Ruas podem ter morrido de forma semelhante, provavelmente sem registros de imagens.

    A gravação feita no metrô choca pela crueldade e também pela ausência de segurança da estação e de solidariedade dos que assistiam ao espancamento —o vídeo ao menos facilitou a identificação e a prisão dos dois suspeitos dias depois.

    A família do ambulante morto não tem o que comemorar na noite deste sábado (31), assim como os parentes de Jonathan Moreira Ferreira, Cesar Augusto Gomes Silva, Caíque Henrique Machado Silva, Robson Fernando Donato de Paula e Jones Ferreira Januário.

    Os cinco moradores da periferia foram encontrados mortos em novembro, vítimas de uma chacina em Mogi das Cruzes. Só uma pessoa foi denunciada até agora pelo crime.

    É um guarda-civil que confessou ter armado emboscada e negou envolvimento na morte dos jovens.

    Um ex-governador do Rio, dois ex-ministros da Casa Civil e um ex-presidente da Câmara, todos figurões acusados na Lava Jato de integrar um esquema de corrupção, passarão a virada do ano numa cela.

    Mas não faz muito sentido celebrar com efusão a punição de quem desvia verba pública se falhamos em proteger aqueles que deveriam ser os mais beneficiados por ela.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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