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    Leandro Colon

    Excesso de prisões provisórias é combustível para massacres

    14/01/2017 02h00

    BRASÍLIA - Uma história contada em reportagem da Folha nesta sexta-feira (13) revela um pequeno e simbólico pedaço de uma das causas da crise nos presídios: o inchaço no quadro de presos provisórios.

    Entre os 33 mortos no massacre na cadeia de Boa Vista (RR) estava Abel Paulino de Sousa. Um dos 16 decapitados na ação, ele foi enterrado no dia em que completaria 25 anos.

    Conforme relato dos repórteres Rubens Valente e Marlene Bergamo, Sousa e outros cinco presos que morreram não haviam sido julgados. O personagem, ex-montador de móveis, não tinha condenação anterior.

    Sousa estava na cadeia havia um mês após ter sido detido com outras duas pessoas sob a suspeita de tráfico de drogas. O inquérito contra ele teria contradições sobre sua real participação no porte de entorpecentes.

    No dia 5, Sousa disparou mensagem à sua mulher pelo telefone: "Acho que vão matar gente aqui hoje. Tá tudo estranho. Se eu for, amo vocês todos. Amor, tá estranho aqui".

    O uso de um aparelho de celular numa cela demonstra a deficiência do modelo de vigilância dos presos e no caso de Sousa a gravidade é dupla porque mostra também a iminência da morte dele dentro da cadeia.

    Estima-se que hoje 40% dos 650 mil presos no país sejam provisórios, praticamente o deficit calculado de 250 mil vagas nos presídios. Não que todos precisem ser soltos, mas é bem provável que muitos deveriam ter sido liberados ou, ao menos, julgados.

    No dia 23 de outubro, 31 torcedores do Corinthians foram presos após uma briga com a Polícia Militar no Maracanã. As imagens identificaram o envolvimento de apenas quatro nas agressões. Ao todo, 26 continuam detidos no presídio de Bangu, sem perspectiva de julgamento.

    A defesa de um alega que nem no estádio ele estava na hora da confusão. Uma torcida organizada divulgou carta que teria sido assinada por quatro dos detentos. Assim como a mensagem do preso de Roraima, alerta para o risco de mortes.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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