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    Leandro Colon

    "O sistema me dragou", diz delator ao analisar cultura da propina

    27/03/2017 02h00

    "O sistema me dragou." A frase é de Benedicto Júnior, um delator de crimes cometidos pela Odebrecht. Entrou como trainee aos 23 anos e chegou em 2009 à presidência de infraestrutura, cargo então subordinado só a Marcelo Odebrecht.

    Tem 32 anos de empresa, onde é conhecido como BJ. Até ser preso pela Lava Jato, em fevereiro de 2016, era uma história de sucesso profissional. Um executivo reconhecido.

    BJ prestou um depoimento sigiloso de 57 páginas ao ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma-Temer.

    Na página de número 50, já nas considerações finais, o ministro do TSE disse que estava "impressionado" com o relato de BJ de que a prática do uso de caixa dois funcionava desde os tempos de Norberto Odebrecht, fundador do grupo baiano.

    O ministro perguntou: "Como isso funcionava para um jovem trainee? Como essa cultura entrava na formação de um profissional que ia ficar 30 anos na empresa?".

    "A Odebrecht, talvez, seja a parte mais vistosa do processo, por ser uma empresa grande, mas a nossa realidade é essa", respondeu BJ.

    Ele continuou: "É aviltante você não poder ter uma discussão técnica onde prevaleça o bom senso e o que é melhor para o negócio".

    BJ disse no depoimento ao TSE que quer pagar sua "conta com a sociedade": "Quero que meus filhos entendam o que fiz. Eles viam as pessoas (políticos) me pedindo".

    O executivo é um criminoso confesso. Se o esquema que encheu o bolso de políticos e partidos deu certo, foi também por culpa dele. BJ é um bom exemplo de como o sistema funciona e do que não deve ser feito.
    Um personagem que merece a atenção sobretudo de engenheiros, arquitetos e administradores de empresas ligados à construção civil.

    Segundo BJ, as delações da Odebrecht talvez ajudem a melhorar o país e as novas gerações a não perder a esperança. "A verdade é que os jovens querem ir embora", disse.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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