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    Leandro Colon

    Prisão de delatores da JBS é a maior crise de credibilidade da Lava Jato

    11/09/2017 02h00

    Nelson Antoine/Associated Press
    Former JBS chairman Joesley Batista, left, is driven away from his father's house to turn himself in to authorities, in Sao Paulo, Brazil, Sunday, Sept. 10, 2017. A Brazilian Supreme Court justice has ordered the arrest of the former chairman of the world's largest meatpacker JBS, whose testimony implicated Brazil's President Michel Temer in corruption.(AP Photo/Nelson Antoine)
    Joesley Batista (à esq.), da JBS, chega à sede da PF em São Paulo para se entregar às autoridades

    DE BRASÍLIA - O falastrão Joesley Batista passou a noite na cadeia. A primeira das pelo menos cinco previstas na prisão temporária decretada pelo ministro Edson Fachin (STF).

    No áudio que o levou para atrás das grades, Joesley debocha das instituições e diz ao parceiro (agora de cela) Ricardo Saud que não serão presos. "No final, a realidade é essa. Nós não 'vai' ser preso. Nenhuma chance disso acontecer", disse o empresário. Aconteceu e a realidade é outra.

    Criminoso confesso, o empresário das carnes, badalado pelo mercado nos últimos anos, se aproximou de um procurador da República e dublê de advogado para fechar um acordo de delação premiada com a própria Procuradoria-Geral da República.

    Quis se livrar da cadeia em troca de entregar políticos, entre eles o presidente Michel Temer. Para tanto, apresentou à PGR a gravação de péssima qualidade, tosca e inconclusiva do encontro que tivera com o presidente no Palácio do Jaburu.

    A prisão de Joesley Batista carrega um enredo tragicômico que expõe as fragilidades do instituto da delação premiada e joga a Lava Jato na sua maior crise de credibilidade até aqui.

    Mesmo que Joesley e sua turma tenham enganado o procurador-geral, Rodrigo Janot, como o chefe da PGR argumenta ao pedir as prisões, o episódio decerto lança dúvidas sobre outras colaborações celebradas nos últimos três anos. Quem garante que não houve omissão de informações em delações da Odebrecht, de ex-diretores da Petrobras, e de demais políticos, empreiteiros e empresários?

    Qual o grau de confiabilidade no que os delatores contaram? Revelaram 100% do que sabiam? Não fosse o áudio do "nós não 'vai' ser preso" —que, segundo a versão oficial, foi gravado acidentalmente—, Joesley estaria ainda por aí, tomando todas e tirando onda de suas traquinagens.

    A delação da JBS virou um mico. A da Odebrecht emperrou. Ou a Lava Jato, que prestou serviço inestimável ao país, corrige essa rota ou o que temos agora é o início do seu velório.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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