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    Leandro Colon

    Crianças passam fome em escola a 11 km do coração do poder

    20/11/2017 02h00

    Reprodução/Google Street View
    Escola em Cruzeiro (DF) onde criança passou mal
    Escola em Cruzeiro (DF) onde criança passou mal

    O presidente Michel Temer negocia ministérios com partidos aliados enquanto crianças passam fome em uma escola a 11 km do Palácio do Planalto e do Congresso.

    Uma delas, um menino de oito anos, desmaiou na sala de aula. Ele faz parte de um grupo de 250 alunos que viaja 30 km de ônibus até o colégio porque não há ensino público na região pobre onde eles vivem.
    Moram em conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida a 20 km da Praça dos Três Poderes.

    A professora que socorreu o aluno afirmou à imprensa que o menino "apagou". Seus três irmãos, matriculados no mesmo local, contaram que não haviam se alimentado no domingo (12), dia anterior ao desmaio. Na segunda-feira (13), antes de sair de casa para a escola, comeram apenas um mingau de fubá.

    O serviço de emergência do Samu foi acionado. A professora disse ter chorado ao saber que o diagnóstico do problema de saúde do menino era falta de comida. Relatou que a questão da fome é rotineira entre as crianças da escola de Brasília.

    A família do aluno que desmaiou recebe R$ 596 do Bolsa-Família e R$ 400 de um programa do DF. Não há almoço na escola. Serve-se apenas um lanche (suco e biscoito) à tarde.

    O episódio do desmaio certamente deve se repetir em outros Estados, mas desperta uma atenção maior por estar perto do coração do poder, a poucos quilômetros do Planalto.

    Se o governo federal ignora o drama, o do DF lavou as mãos. A reação do governo de Rodrigo Rollemberg ao caso da criança faminta foi um desastre. Rollemberg é do PSB, partido que deixou a base de Temer.

    A Secretaria de Educação, que não disponibiliza educação na região de moradia dos alunos, contestou até se houve desmaio. Em nota, declarou que a criança estava "molinha" ao ser atendida. O governador, por sua vez, afirmou que é uma questão "pontual", da família, e não do colégio. Falta agora declarar como culpado o mingau de fubá.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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