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    Leandro Colon

    'Irmãos siameses' na ditadura, Maluf e Marin passam Natal na cadeia

    25/12/2017 02h00

    Reprodução/ Acervo Folha
    Reprodução da Folha do dia 12 de maio de 1982
    Reprodução da Folha do dia 12 de maio de 1982

    BRASÍLIA - "Marin promete que será fiel a Maluf", informa o título da página 4 da Folha de 12 de maio de 1982, uma quarta-feira. Na véspera, José Maria Marin, então vice-governador de São Paulo, rasgara elogios a Paulo Maluf, o governador.

    Dias depois, Maluf deixaria o cargo para disputar e conquistar vaga na Câmara dos Deputados. Marin o substituiria no governo até 1983.

    Naquele maio de 82, a dupla do PDS trocou afagos públicos. Marin declarou sua "lealdade total e fidelidade a este grande estadista que é Paulo Maluf". Maluf soube retribuir à altura. Falou em "amizade e lealdade, integridade e competência".

    "Não encontro um exemplo onde o governador e o vice tenham se dado como irmãos gêmeos, como irmãos siameses, como eu sempre me dei com José Maria Marin", disse.

    Segundo as palavras de Maluf, a relação entre os dois deveria, na época, "se constituir, na verdade, como um exemplo para a classe política, que faz política com ética e com honestidade aqui no Estado de São Paulo". A reportagem conta que Maluf e Marin então "abraçaram-se demoradamente e choraram".

    Quase 36 anos depois, os "irmãos siameses" da ditadura estão condenados e presos. Maluf passou a noite de Natal no presídio da Papuda, em Brasília, e Marin dormiu em uma cela de um presídio federal dos EUA.

    Hoje deputado, Maluf começou a cumprir pena por lavagem de dinheiro em esquema de desvio de verbas durante sua gestão como prefeito de São Paulo, entre 93 e 96.

    Ex-presidente da CBF, Marin acaba de ser considerado culpado por um tribunal de Nova York pelos crimes de organização criminosa, fraude financeira e lavagem de dinheiro em contratos de direitos do futebol.

    A prisão deles é um irônico e coincidente registro da história, carregado de um alerta: o caso de Maluf escancara a lentidão da Justiça e o de Marin, punido nos EUA, expõe a incapacidade das autoridades brasileiras em investigar nossos cartolas.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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