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    Leão Serva

    Melhorar o trânsito sem fazer obras

    DE SÃO PAULO

    16/09/2013 03h00

    O trânsito é uma quimera tão dominante no mundo de hoje que é normal as pessoas acharem que dá para reduzir congestionamentos com muito dinheiro: avenidas novas, pontes sobre vales, minhocões por cima dos gargalos... Mas estudiosos já chegaram a duas certezas: grandes obras viárias provocam mais congestionamentos ao invés de resolver os existentes. E soluções simples, que atuam sobre o hábito das pessoas, têm custo baixo e ajudam a diminuir o número de carros na rua.

    As medidas chamadas de TDM (do inglês "Traffic Demand Management", gestão de demanda do trânsito) incluem providências como escalonar horários de trabalho; incentivo a carona e ao transporte público; adoção do expediente em casa etc.

    Na quinta-feira, 19, serão apresentados na Virada da Mobilidade os resultados de um programa de TDM coordenado pelo Banco Mundial em São Paulo, que pode melhorar o trânsito com ações simples e de baixo custo. O estudo-piloto aconteceu na avenida Berrini, lugar da cidade onde mais carros circulam só com o motorista e o congestionamento é tão grande que invade as garagens (os carros chegam a levar meia hora para sair do prédio).

    O trabalho foi pilotado por Andrea Leal, especialista em políticas públicas e coordenadora de projetos do organismo internacional. Foram escolhidos dois grandes condomínios na av. Berrini: o WTC e o Cenu. De 80 empresas com escritórios nesses prédios, 20 aderiram ao projeto e passaram a trabalhar junto aos funcionários para mudar hábitos. Foram oferecidas opções como uso de caronas (parceria com o site caronetas.com.br), linhas de ônibus fretados, horário de trabalho flexível, incentivo ao uso de bicicletas, programas de trabalho doméstico...

    Entre os resultados mais animadores estão os de uma ação simples: o hotel Hilton local apresentou a cada funcionário as melhores rotas de transporte público de sua casa ao trabalho.
    "Ficou provado que a informação é uma ferramenta poderosa para a mudança de hábitos", diz Andrea. Outra medida de impacto na redução do uso do carro foi deixar de cobrar a parcela de 6% dos empregados no custo do Vale Transporte.

    Também utilizaram menos o automóvel aqueles funcionários que aderiram ao "home office": quem passou a trabalhar em casa (todos ou alguns dias) reduziu em 20% sua necessidade do carro para outras tarefas. Já a adesão à carona foi menor do que esperavam os organizadores, a partir de pesquisas, o que sugere a necessidade de melhorar o sistema de oferta nos próximos projetos.

    Andrea Leal vai apresentar os resultados do programa em um evento da Virada da Mobilidade, que ocorre de amanhã até a próxima segunda em diferentes pontos de São Paulo. Ela falará no seminário "Mobilidade Corporativa e Cidades Sustentáveis", quinta-feira, no auditório do banco Santander (na av. Juscelino Kubitschek, 2.235, próximo à estação Vila Olímpia da CPTM). Depois, vai levar o relato da experiência à prefeitura e ao Estado, para que sirva de modelo a políticas de mobilidade. Desde já, o programa está sendo estendido a outros prédios da marginal Pinheiros.

    Numa cidade cansada de ver grandes obras viárias associadas a irregularidades, é bom saber que medidas de custo irrisório podem funcionar contra o trânsito.

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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