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    Leão Serva

    SP 460 anos: sem fios, sem Minhocão e sem carros

    25/01/2014 03h00

    São Paulo faz hoje 460 anos com muito a comemorar e bastante por melhorar. Creio que já há muita gente preocupada com a macropolítica. Por isso, me volto para questões micros, normalmente negligenciadas.

    1) #malditosfios: o ano passado foi marcado por importantes avanços na discussão sobre o enterramento da fiação aérea na cidade. No primeiro semestre, o Ministério Público Federal abraçou a causa, chamou a uma audiência pública as autoridades envolvidas (municipais, estaduais e federais) e representantes da sociedade civil e cobrou avanços. No final do ano, esta coluna publicou em primeira mão que a Eletropaulo mudou de estratégia: em vez de refutar a discussão, apresentou um plano estratégico para viabilizar a retirada dos fios no centro expandido da cidade em dez anos, com um gasto reduzido e responsabilidades compartilhadas entre empresas privadas, Estado, município e União. A bola agora está com a prefeitura, a quem cabe o papel de coordenar os diversos setores envolvidos e tocar a coisa pra frente ("antes que um aventureiro lance mão"). O que se pode esperar para os próximos meses é que o prefeito Fernando Haddad perceba a grande chance que tem de melhorar radicalmente a paisagem urbana, completando o que a Lei Cidade Limpa não fez, porque a oportunidade não estava dada como agora.

    2) Abaixo o Minhocão: Hoje à tarde, moradores de Santa Cecília promovem um passeio pela região do elevado Costa e Silva para pedir que ele passe a ser fechado para o trânsito também aos sábados, como já ocorre à noite e aos domingos. É uma reivindicação legítima de quem sofre diariamente com um barulho enlouquecedor para que donos de automóveis vindos de áreas distantes cruzem o centro no sentido leste-oeste. Esse movimento ajuda a avançar a causa do fechamento definitivo da avenida elevada, que há 43 anos estraga o visual e a qualidade de vida na cidade. No ano que passou, a prefeitura pediu a arquitetos ideias para a ocupação da margem sul do Tietê (entre o centro e a Lapa); vários dos projetos apresentados contemplam a criação de uma avenida ligando leste-oeste, que permitirá dispensar completamente o Minhocão. Defendo a derrubada do imenso viaduto. Também em 2013, uma associação foi formada por empresários, artistas, ótimos arquitetos e moradores, que defende sua transformação em um parque. Enquanto uma das duas coisas não acontece, outras melhorias devem ser obtidas, como o fechamento aos sábados e a adoção de ônibus elétricos para o trânsito no corredor abaixo da via, pois os barulhentos veículos a diesel aumentam a poluição sonora no local.

    3) Ciclovias baratas: São Paulo precisa criar um programa vigoroso de ciclovias. E não precisa gastar muito, basta fazer como Buenos Aires, separar para as bicicletas áreas destinadas ao estacionamento de carros junto ao meio fio (como as zonas azuis) em um bom número de ruas, criando propriamente uma malha para que o ciclista possa ir a todos os cantos da cidade por vias seguras para esse transporte. Hoje temos poucos quilômetros e quase todo roteiro obriga o ciclista a pedalar ao lado de carros ou ônibus, um risco que precisa ser evitado para que mais gente adote a bicicleta.

    No ano que terminou, a prefeitura revelou uma prioridade ao transporte público em relação ao carro particular: implantou várias faixas exclusivas de ônibus, mesmo enfrentando pressões dos prejudicados. As faixas exclusivas melhoram a velocidade dos ônibus, mas são como um copo meio cheio. Merecem meio elogio. A cidade precisa de corredores exclusivos, completos, com áreas de ultrapassagem e permanentes. É necessário retomar também os investimentos municipais em metrô, para melhorar a velocidade de construção do sistema de mais alta resolução. Tudo isso fará com que no ano que vem tenhamos um aniversário ainda melhor para os paulistanos.

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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