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    Leão Serva

    Papel na privada, xixi no chuveiro

    03/03/2014 03h00

    A provocação foi feita pela escritora Vanessa Barbara, em seu perfil numa rede social: devemos jogar papel higiênico na privada ou no cesto de lixo? Afinal, em diferentes lugares do planeta, do Mandaqui natal da cronista à Europa, passando por hotéis e casas de todos os continentes, as indicações que recebemos são contraditórias.

    Não raro alguém pode alegar preocupação ambientalista ao recomendar que se jogue o papel no cesto enquanto, adiante, outrem dirá o mesmo para determinar que ele vá para a privada.

    A dúvida, absolutamente pertinente, nos faz lembrar que mesmo as princesas, os poetas, os eremitas e as estrelas das artes, como a colunista da Folha, de talento reconhecido internacionalmente, têm preocupações com questões chãs. E assim deve ser com você e eu.

    "Jogar papel no cesto ou na privada?" é questão aparentemente comezinha que, no entanto, pode ajudar a decidir o destino do planeta. Vivemos um pouco mais perto do apocalipse: São
    Paulo enfrenta a maior seca da história em pleno verão (antes, temporada de chuvas).

    Embora pareça um ato simples e automático, merece uma decisão estratégica, pois pode ter efeitos danosos ou muito benéficos.
    Informações contraditórias pululam há muito tempo. Quando eu era pequeno, minha família vinha do interior passar férias na capital. Meu pai, mais preocupado com etiqueta do que com
    ética ambiental, ensinava as boas maneiras da cidade.

    E não é que a regra que ele ditou quanto ao destino do papel higiênico, conforme usavam fazer na casa de sua mãe, era oposta à adotada por meu avô materno? Tive que decorar que, numa casa, o papel usado devia ir para o cesto; na outra, seu destino era a privada. Eu trocava sempre...

    Outra questão decisiva é: fazer xixi na privada ou no chuveiro, durante o banho?

    São dúvidas que fazem ainda mais sentido quando nossos reservatórios de água chegam ao menor nível da história mas, por ser ano eleitoral, os administradores se recusam a chamar a população ao sacrifício, com medo de perder votos.

    Pensando em ajudar a Vanessa e, de quebra, aprender, fui buscar entre especialistas qual é o destino correto do papel higiênico, do xixi e da descarga.

    Sabe o que concluí? O papel deve respeitar a qualidade dos encanamentos de cada prédio ou banheiro. Se a instalação hidráulica (a começar pela pressão da água) dá conta, jogue na privada (a Sabesp diz que é melhor).

    Mas, se o seu papel pode entupir os canos, que vá pro cesto. A decisão exige perguntar a quem conhece a condição do imóvel. Na dúvida, jogue o papel no cesto, embora o melhor seja na privada.

    Já quanto ao "número 1" (como as crianças costumam se referir ao xixi), é preciso fazer uma lavagem cerebral nos hábitos em geral. Quando se trata da urina matinal ou do fim do dia, o melhor é deixá-la ir com a água do banho, já que cada descarga acionada gasta aproximadamente 12 litros de água.

    Quanto àquele banho de 15 minutos, é melhor tomar fechando o registro pra se ensaboar, porque aí são gastos 45 litros de água, contra 135 litros da ducha corrida.

    Então, vamos "resetar" o cérebro e melhorar o mundo? Dar menos descargas, para economizar a água da Cantareira (e do planeta).

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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