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    Leão Serva

    CET: É possível fechar o Minhocão

    08/06/2015 02h00

    Contra fatos não há argumentos, diz o ditado. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) enviou à coluna na semana passada os resultados preliminares de projeção sobre o impacto do fechamento do Minhocão. O texto diz: "Pode-se concluir que a demolição do elevado Costa e Silva é possível, mas implicará adequação do sistema viário existente".

    O estudo considerou dois cenários de vias: (1) fechamento do elevado sem construção de nova avenida; (2) criação de via junto às linhas da CPTM entre Lapa e Brás.

    Para cada opção, foram aplicadas duas possibilidades: (a) se o número de carros no trajeto leste-oeste seguir constante; (b) se a demanda cair, caso parte dos motoristas opte por "mudança de horário da viagem, mudança do modo de transporte ou até desistência da viagem".

    O estudo enviado foi feito em 2010 e repete a conclusão a que chegou antes o engenheiro Roberto Scaringella: o Minhocão pode ser fechado, desde que nas ruas em torno dele sejam implementadas medidas como redução das áreas de estacionamento. Os números mostram como sempre faltou ciência à defesa do elevado.

    TATTO VIRA MESTRE

    Ciência é o que levou o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, a produzir uma dissertação de mestrado, que defenderá na próxima segunda-feira (15), na Escola Politécnica da USP.

    O trabalho se chama "Mobilidade Urbana em São Paulo: aplicação de soluções imediatas e eficazes". Pelo título, supõe-se que ele aproveitou a oportunidade para consolidar uma defesa técnica contra ataques a sua administração.

    Teses acadêmicas são cercadas de sigilo até a apresentação à banca. Mas o autor tem apresentado a interlocutores dois infográficos muito significativos que constam de seu trabalho.

    O primeiro mostra a foto de um congestionamento na cidade. A legenda traduz o que se vê na imagem: "18 ônibus; 210 automóveis; 28 motos, 8 caminhões". Uma tabela informa que os ônibus ocupam uma área de 1.555 metros quadrados e levam 864 pessoas; já os carros ocupam mais do dobro do espaço (3.528 metros quadrados) e levam menos de um terço das pessoas (252 pessoas). A foto, tirada em 2012, com os ônibus parados, cercados de carros, é usada para justificar a criação de faixas exclusivas para ônibus, a partir de 2013.

    O outro gráfico mostra a evolução dos congestionamentos em São Paulo: do fim de 2011 a 2012, a lentidão subiu 15%; daí ao final de 2013, cresceu 8%; e entre 2013 e 2014, 3%. Houve, portanto, uma redução no crescimento do trânsito quando a prefeitura criou faixas exclusivas para ônibus e ciclistas.

    Os dados são coerentes com o que ensina a engenharia de tráfego: quanto mais se limita o fluxo de autos particulares, menos eles vão para a rua e melhor fica o trânsito. É o que se pode prever que aconteça com o fechamento do Minhocão.

    EXPOSIÇÃO #MALDITOSFIOS

    No próximo sábado (13), será aberta a coletiva #Malditosfios, com fotos sobre o tema que tanto irrita os paulistanos: a horrorosa fiação aérea. A exposição, na Galeria Mezanino (r. Cunha Gago, 208) faz parte da Mostra SP de Fotografia e terá obras de diversos artistas, entre os quais o genial Geraldo de Barros (1923-1998). Também participa o vereador Andrea Matarazzo, que decidiu ajudar a empurrar os fios elétricos para baixo da terra.

    Com o Minhocão quase fechando e os #malditosfios sob ataque, quem sabe São Paulo não vira uma cidade linda?

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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