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    Leão Serva

    Marketing em alta velocidade

    27/07/2015 02h00

    Mais uma medida da Prefeitura de São Paulo na área de trânsito provoca polêmica. O impacto da redução de velocidade nas marginais para a mobilidade dos paulistanos é certamente irrisório: quatro minutos para quem faz uma das vias; oito para quem percorre Tietê e Pinheiros, segundo cálculo da Folha... É nada se comparado ao ganho de segurança com os carros andando mais devagar.

    O maior impacto, no entanto, beneficia a imagem da administração. O marketing do prefeito Haddad pisa no acelerador rumo ao ano eleitoral, buscando maximizar a atenção da opinião pública para o único setor em que vai bem. Tão logo a cidade se acostuma com uma medida, nova decisão deve logo se tornar foco de atenções.

    Como já aconteceu com as ciclovias e faixas de ônibus, a cidade discute a decisão como se fosse a morte da bezerra; logo surgem inúmeros defensores para louvar a mudança de prioridade da cidade, dos carros com seus passageiros solitários, para a maioria que anda de transportes públicos ou a pé. Os adversários políticos mordem o anzol e se debruçam sobre as poucas realizações bem avaliadas da gestão, atacam algo bom, que ganha apoio da população (ao contrário das outras áreas da administração).

    Enquanto todos falam de velocidade nas marginais, ninguém vai lembrar do aumento da sujeira nas ruas; do aumento da população deixada em situação de rua no inverno; do cancelamento do combate à poluição dos carros; da suspensão do programa de despoluição dos córregos; da queda do atendimento nas unidades de saúde na periferia; dos corredores de ônibus em passo de tartaruga; da paralisia do programa de creches etc.

    No mesmo período em que jornais, rádios e tevês deram grande destaque a uma medida de pequeno impacto sobre o trânsito, foram divulgados os dados sobre a evolução das metas da prefeitura, que revelam uma performance pífia. Em verdade, seguir acompanhando o plano de metas em São Paulo já é absurdo: Haddad ao tomar posse desmoralizou a lei ao anunciar que não realizaria a principal proposta de sua campanha, o Arco do Futuro. A OMG (organização muito governista) Nossa São Paulo, que propôs a lei na administração anterior, manteve silêncio obsequioso e com isso enterrou de vez a credibilidade de sua própria ideia.

    A vocação de marketing da implantação da redução da velocidade nas marginais (em si, uma boa medida) fica clara para quem usou as vias desde segunda-feira, 20, e ao sair delas se deu conta de que qualquer outra avenida em seu caminho, mesmo mais estreitas, tem limites maiores. Isso não faz sentido. Nem mesmo o argumento de que não se pode mudar a cidade inteira ao mesmo tempo justifica que avenidas como Sumaré e Marquês de São Vicente; do Estado ou Ragueb Chohfi; Chucri Zaidan ou Nove de Julho possam ter velocidades maiores que das Marginais, que são vias estruturais, mais importantes que todas as outras... Apesar da ira de todos os carro-dependentes, era preciso ter reduzido a velocidade em todas essas avenidas antes ou simultaneamente. Mas isso daria mais trabalho e teria impacto apenas semelhante para a imagem da administração.

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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