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    Leão Serva

    E se chamar calçada de "pedestrovia"?

    24/08/2015 02h00

    A morte de um pedestre atropelado por ciclista pôs em discussão nos últimos dias a questão do compartilhamento de calçadas e vias públicas entre bicicletas e pedestres. Com os ânimos mais calmos, agora, é preciso voltar a atenção para os pedestres na cidade: pelo menos em algum momento do dia, todos andamos a pé por calçadas paulistanas que frequentemente são mal cuidadas, sujas e esburacadas.

    Com toda a atenção que deu para o transporte público (com faixas exclusivas de ônibus) e para as ciclovias, a prefeitura abandonou o programa "da mãozinha", como era chamada a campanha de respeito aos pedestres no trânsito. Iniciado na administração passada, conseguiu melhorar a relação dos motoristas com as pessoas nas faixas. Mas sua suspensão, logo após a posse do prefeito Haddad, como aconteceu com a Lei Cidade Limpa (que eliminou a propaganda externa), resultou em retrocessos.

    A colocação de ciclovias sobre calçadas ou ilhas centrais, aumenta a percepção de risco para os pedestres.

    Durante a semana a Prefeitura anunciou planos para aumentar calçadas em certas avenidas. Um teste deverá ser feito na região da Liberdade, no centro. Trata-se de uma medida necessária, que deve ser adotada com rapidez.

    As calçadas já foram tema de um anúncio do prefeito Haddad em abril. Ele lançou um programa de recuperação do piso de mil quilômetros de passeios, com dinheiro público. É outra medida fundamental que, no entanto, tem impacto reduzido em uma cidade com 35 mil km de calçadas.

    Como a cabeça da Medusa, a magnitude paulistana por vezes paralisa as melhores intenções de quem a observa. Especialmente porque são tantos os seus problemas que não adianta ter foco apenas nas prioridades: há que se resolver um monte de coisas ao mesmo tempo, calçadas, ciclovias, corredores de ônibus, semáforos, lixo, publicidade irregular etc. e tal.

    O problema dos pedestres é que eles são ruins de marketing. Falta-lhes um sindicato para fazer barulho. Ou uma entidade com "sem" no nome: Movimento dos Pedestres Sem Calçada, MPSC. O governo do PT sempre tenta resolver a coisa com uma mesada, tipo "bolsa calçada"; já uma gestão tucana, ao contrário, talvez queira implantar pedágios para pagar a reforma.

    Seja como for, é preciso voltar a atenção da sociedade e do poder público para a urgência de melhorar a qualidade dos passeios públicos e o respeito aos pedestres. Nem que seja mudando o nome das calçadas para "pedestrovia".

    CONVIVER É COMPARTILHAR

    Estamos fadados ao convívio com as multidões. E para conviver nesse espaço cada vez mais apertado das grandes cidades, o melhor é compartilhar posses. Em vez de ter tudo, usar as coisas em um momento e depois deixar que outros utilizem. Esse princípio está criando riquezas e novos modos de vida.

    O Uber é apenas um exemplo de compartilhamento. As "bicicletas do Itaú" são mais visíveis. O Waze é impressionante porque as pessoas vão criando juntas o caminho mais rápido para o trânsito. Hoje compartilhamento de escritórios (co-working) e de habitações se tornaram grandes negócios.

    A chamada "Economia do Compartilhamento" (www.facebook.com/cidadecolaborativa) será tema de um seminário na manhã da próxima sexta-feira, 28, na universidade ESPM (r. Dr. Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana), do qual participo como um dos organizadores. A ideia é: compartilhar é o jeito de viabilizar a vida na cidade compacta, como são as metrópoles em que vivemos. Não só para viver sem carro, mas também sem tralha.

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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