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    Leão Serva

    Atropelamento alerta que só parte das irregularidades no trânsito é multada

    19/10/2015 17h53

    Neste fim de semana aconteceu de novo: motorista sob embriaguez atropelou, matou e fugiu. Desta vez a vítima era um trabalhador que pintava uma ciclofaixa. Recentemente, foi um gari; tempos atrás, um ciclista que chegava cedo para o trabalho. São muitos os motoristas bêbados ou abusados e poucos os flagrantes que resultam em prisão ou multas.

    Tem um certo tipo de gente que reclama das regras de trânsito, sob alegação de que elas são criadas apenas para alimentar "a indústria da multa". São todos certamente dinossauros carrocêntricos que não andam pela cidade fora dessas jaulas ambulantes. Não veem como os motoristas cometem muitas infrações, algumas delas criminosas, com a cínica segurança da impunidade. Em verdade, são poucos os radares, falta vigilância.

    Basta observar as saídas de restaurantes e bares para ver quanta gente sai dirigindo depois de beber. Ou prestar atenção em quanta gente anda acima dos limites de velocidade até a hora em que vê um radar e reduz a velocidade. Ou pior: observar o retrocesso no respeito aos semáforos nas esquinas, desde que a gestão Haddad abandonou o programa de segurança para os pedestres.

    Para quem gosta de ver o mundo pela lente da luta de classes, a interpretação é óbvia: no Brasil, ricos têm carro e os pobres, não. Ao passar no sinal amarelo ou vermelho sem se preocupar com os transeuntes, o motorista está dizendo algo como "você sabe quem está passando!" Eu não acho que seja tão simples: há carros bem baratos desrespeitando cruzamentos em ruas de bairros ricos. O ilícito frequenta todas as classes.

    Rico ou pobre, quem passa pelo sinal vermelho é o mesmo hipócrita que chega ao destino de manhã atacando a "indústria da multa" porque foi flagrado. Ora: foi flagrado cometendo uma infração? E reclama do quê?

    O interessante é que governos de direita, de esquerda, de centro e mesmo os "nem direita, nem centro e nem esquerda" são acusados de gerar a indústria da multa. E nem por isso o motorista hipócrita para de cometer infrações. Ou de imprecar.

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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