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    Leão Serva

    Por que na Inglaterra brasileiros debatem sem bater?

    15/05/2017 02h00

    Cynthia Vanzella
    O ex-ministro José Eduardo Cardozo e o juiz Sergio Moro em evento em Londres
    O ex-ministro José Eduardo Cardozo e o juiz Sergio Moro em evento em Londres

    Uma coisa chamou a atenção de muitos presentes ao Brazil Forum, realizado no fim de semana nas cidades inglesas de Londres e Oxford: as discussões ocorreram em tom educado, completamente diferente da agressividade que tem marcado o enfrentamento político no Brasil. Exemplo mais claro foi a mesa de debate que reuniu o ex-ministro e advogado de Dilma Rousseff José Eduardo Cardozo e o juiz Sergio Moro, nome mais conhecido da Operação Lava Jato: o esperado "duelo" não aconteceu, ambos expuseram com clareza suas ideias, contrárias, sem atrito. "Não dei nenhuma cotovelada", brincou Moro ao comentar exatamente como os dois podem conversar civilizadamente.

    Se são brasileiros e ninguém deixou de expor suas convicções, por que na Inglaterra não acontece o tiroteio que tem caracterizado o debate no país?

    O Brazil Forum é um evento que se pretende anual, voltado para o público de jovens estudantes brasileiros no Reino Unido. É sediado na London School of Economics e em Oxford. No sábado, na capital, houve até alguns momentos em que pessoas da plateia foram mais agressivas. O exemplo mais claro foi o de uma senhora que segurou um cartaz de protesto, provocando uns poucos gritos de "golpista" no início da fala do ministro do Supremo Luís Roberto Barroso ("presidente de honra" do evento) e, do outro lado, um "demagogo" disparado quando falava o ex-ministro Patrus Ananias. Fora isso, umas vaias aqui e ali que não chegaram a provocar maior desconforto.

    Neste domingo (14), em Oxford, como relata o enviado especial da Folha, Diogo Bercito, o clima foi de cordialidade.

    Pode ser o fato de que a plateia não tem influência direta sobre o que acontece em seu distante país de origem e, por isso, não precise ser disputada a tapa. Ou pode ser que a centenária democracia inglesa contamine positivamente os estrangeiros quando discutem política por aqui: agressivos em sua terra natal, talvez os brasileiros se contenham ao ver o tom educado com que os britânicos de partidos antagônicos discutem mesmo as mais radicais diferenças. Ou pode ser outro motivo. O fato é que esse poderia ser um bom tema para estudos de psicologia política. Afinal, se aqui dá para debater sem bater, deveríamos aprender a fazer o mesmo no Brasil.

    São Paulo começa a olhar para as calçadas

    Na próxima quarta-feira, a Câmara Municipal de São Paulo deve votar o "Estatuto dos Pedestres". Depois de um século 20 inteiramente voltado para os direitos dos automóveis (usados diariamente por apenas um terço das pessoas que se deslocam pela cidade) e quatro anos marcados pelo crescimento de ciclovias, é muito positivo que se comece a garantir os direitos de toda a população que é pedestre, ao menos em algum momento do dia.

    A lei, proposta pelo vereador Police Neto, será votada no mês dedicado, em São Paulo e outras cidades do mundo, às campanhas de segurança no trânsito ("Maio Amarelo"). A oportunidade coincide também com o anúncio feito pelo secretário municipal de Transportes, Sergio Avelleda, de que vai aumentar o tempo de duração do "verde" nos semáforos para pedestres (demorar para abrir e permanecer aberto por pouco tempo são defeitos apontados como causa de atropelamentos em vários cruzamentos da cidade).

    Segundo o autor da lei, o Estatuto do Pedestre vai fazer com que as calçadas sejam equiparadas com as vias dedicadas aos carros (todas as ruas e avenidas da cidade). Assim, os passeios devem ter sinalização, iluminação e manutenção do pavimento adequadas para dar segurança a quem se desloca a pé (hoje as calçadas irregulares são causa de acidentes). Será que chegou a hora da "pedestrovia"?

    É possível que os deuses do trânsito estejam começando a soprar ventos positivos em direção a São Paulo. Mas é preciso que os homens ajudem: se a lei for aprovada, será necessário cobrar a sua implementação rápida, para criar uma rede de caminhos seguros que mude a feição da cidade.

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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