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    Leão Serva

    Prepare o copo: preço do vinho no mundo deve cair graças ao brexit

    12/06/2017 02h00

    Bruno Fernandes/Folhapress
    ORG XMIT: 494101_1.tif SÃO PAULO, SP, 10-08-2010: Aluno do curso de vinhos da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers) com o professor Mario Telles Jr., experimenta o aromas que da bebida. (Foto: Bruno Fernandes/Folhapress, EQUILÍBRIO)

    O Reino Unido é o maior importador de vinho da Europa, o segundo maior do mundo (atrás apenas dos Estados Unidos). Sua população consome tanto vinho quanto alguns dos maiores produtores (21 litros por ano). Se você associa a Grã-Bretanha ao uísque ou à cerveja, saiba que um britânico consome em média a mesma quantidade anual de vinho e cerveja (pouco mais de 30%), mesmo o vinho sendo mais forte; e os dois fermentados juntos somam três vezes mais que todos os destilados.

    Nos próximos anos, no entanto, o consumo deve cair vertiginosamente, por causa da crise econômica em curso, que será agravada pelo Brexit, a saída da União Europeia. E se o consumo cai na Inglaterra, os preços caem no mundo inteiro.

    Hic! Quem gosta de vinho pode comemorar e preparar para se esbaldar ao longo dos próximos sete ou oito anos.

    Não pense que isso é conversa de bar. As projeções foram encomendadas pelo Observatório de Políticas Comerciais do Reino Unido (a sigla em inglês é UKTPO), um centro de estudos ligado à Universidade de Essex, que queria saber: "O Brexit vai afetar negativamente o mercado britânico e mundial do vinho"? Para responder, o instituto contratou dois dos maiores especialistas do mundo em economia internacional da bebida, os australianos Kym Anderson (Universidade de Adelaide) e Glyn Wittwer (de Melbourne). A Austrália é um dos maiores exportadores de vinho do planeta e projetar as tendências de mercado é estratégico para ela.

    Coube a Anderson dar as más notícias aos ingleses, no dia 19/5, em Londres: sim, o Brexit vai abater o mercado inglês e do mundo todo. Os dois projetaram como cenário mais provável para a Grã-Bretanha: um aumento de preço de 22% (acima das variações naturais que devem acontecer, mesmo que não houvesse o Brexit); uma queda de consumo de 28%; e, para tentar manter a quantidade de bebida, com menos, dinheiro, os britânicos vão importar vinhos 27% mais baratos do que compram hoje.

    O impacto dessas quedas é muito danoso para a indústria do vinho em todo o planeta. Imagine que em torno do ano 2000, o Reino Unido adquiria 20% de todo o comércio internacional de vinho (esse percentual caiu para 14% desde a crise de 2008). Para sustentar essa glutonice, os súditos de Elizabeth 2a. compram 30% do vinho exportado por Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos (fora o que buscam em outros parceiros, como França, Itália, Espanha, Portugal, Argentina, Chile, África do Sul etc.).

    Os produtores de todo o mundo têm razão para se preocupar com a crise gerada pelo Brexit. Mas entre eles, os mais prejudicados serão os de países, como França, Portugal e Itália, que têm um preço médio mais caro, por imagem e qualidade. Para economizar na hora da compra, mas tentar manter a quantidade consumida, os britânicos deverão comprar vinhos mais baratos, beneficiando (ou prejudicando menos) os produtores de países com preço médio menor: Chile, Argentina, África do Sul vão ganhar fatias do mercado inglês. Essa tendência já é visível: nunca se falou tanto e tão bem de Malbecs nas colunas de vinho.

    Segundo os dois especialistas, mesmo que a Grã-Bretanha assine tratados de livre-comércio com outros países, para substituir o mercado comum europeu, ainda assim eles levarão anos para serem implementados e substituir integralmente as lacunas causadas pelo Brexit. Por isso, projetam esses cenários até 2025, quando o mercado deve encontrar seu equilíbrio novamente.

    Se os produtores vão penar, os consumidores fora da Inglaterra vão se dar bem: a queda da demanda vai aumentar a oferta e pressionar para baixo os preços internacionais do vinho, principalmente dos países mais caros.

    leão serva

    Ex-secretário de Redação da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve às segundas.

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