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    Leonardo Souza

    Bolsa pescador?

    30/09/2014 12h40

    O aumento das despesas com o seguro-desemprego na categoria pescador-artesanal subiu 2.220% na última década. De R$ 81,5 milhões, os gastos com essa rubrica passaram a R$ 1,89 bilhão no ano passado. O seguro-desemprego do trabalhador formal no mesmo período subiu 357%, de acordo com um estudo do corpo técnico da Comissão Mista de Orçamento do Congresso.

    Um dos principais fatores para o aumento do pagamento do seguro-desemprego é a paulatina formalização do mercado de trabalho –sem dúvida, um dos méritos dos governos do ex-presidente Lula e de sua sucessora, Dilma Rousseff. Com mais pessoas trabalhando com carteira assinada, maior o volume do abono quando deixam seus empregos.

    Nos últimos anos, contudo, uma equação tem deixado os economistas de orelha em pé. O nível de desemprego tem se mantido estável, em torno de 5%. Já o pagamento do seguro-desemprego tem subido ano a ano. De R$ 25,7 bilhões em 2012, essa despesa, em termos nominais (sem contar o efeito da inflação), passou para R$ 29,94 bilhões no ano passado. Como isso é possível? Pela lógica, as duas contas, seguro-desemprego e desemprego, teriam de andar juntas, certo?

    Uma das razões para o descasamento é a fraude. Em muitos setores da economia, com condição de pleno emprego, o trabalhador pede demissão, recebe o seguro e passa a trabalhar informalmente, sem carteira assinada, em outra empresa, enquanto o benefício perdurar. Essa é uma fraude difícil de o governo detectar e coibir.

    Agora, e um aumento de 2.220%? O Tribunal de Contas da União investigou o assunto e apontou várias explicações. A primeira razão é um aumento legal no número de pescadores cadastrados no RGP (Registro Geral de Atividade Pesqueira). A segunda, ainda no campo da lei, o aumento do salário mínimo. A terceira, também entre os fatores positivos, está a definição abrangente de áreas e períodos de defeso, quando não se pode pescar para permitir a procriação adequada das espécies.

    A partir daí o que o TCU viu foram fraudes em cima de fraudes, como pescadores fantasmas recebendo o benefício e inúmeras pessoas cadastradas no RGP que nunca exerceram a pesca. Esses casos são muito mais fáceis de serem coibidos. Por que o governo não fiscaliza e estabelece melhores mecanismos de controle desses benefícios? Não estará contida na frouxidão um desejo deliberado de ampliar o escopo do paternalismo do Estado brasileiro? Estamos diante de um "bolsa pescador"? Ou será coisa pior?

    leonardo souza

    Escreveu até setembro de 2015

    Vencedor de dois prêmios Esso na Folha, atuou na cobertura de política e economia em São Paulo e Brasília.

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