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    Leonardo Souza

    PSB rachado no 2º turno

    07/10/2014 02h00

    "Eu, particularmente, vou me empenhar para manter a nossa base partidária unida." A frase dita à Folha pelo presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, minutos após votar neste domingo (5), sintetiza o estado de espírito do partido para o segundo turno da eleição presidencial. Vai se empenhar para manter unida por saber estar rachada.

    Amaral não esconde de ninguém sua predileção pelo PT. Quando Eduardo Campos ainda estava vivo, eram fortes os rumores de que preferia apoiar Dilma a lutar por uma candidatura própria do PSB. No começo do ano, Amaral protagonizou alguns episódios de "governismo", causando incômodo a Campos e à ala do partido fechada com o ex-governador pernambucano. Em fevereiro, Amaral foi à festa de dez anos do PT e fez elogios ao governo federal em um discurso.

    No mês seguinte, Amaral chegou a confirmar presença em outra festa petista. A reação negativa no partido a sua postura o obrigou a cancelar a viagem. Quando Campos morreu, num acidente de avião em agosto, Amaral não abraçou automaticamente a candidatura de Marina. Os boatos de que ele jogava contra a ex-ministra do Meio Ambiente eram tão fortes que ele se sentiu no dever de dar a seguinte declaração: "Se eu tivesse conspirado contra Marina, ela não seria candidata".

    Já desgastada pelas sucessivas quedas apontadas pelos institutos de pesquisa, Marina fez seu último evento de campanha, na sexta-feira (3), no Rio, sem o apoio da cúpula do PSB. Nem Amaral, que mora no Rio, nem o vice-presidente nacional do partido, Rubens Bomtempo, nem o candidato ao Senado Romário a prestigiaram num trajeto de menos de um quilômetro na Tijuca, zona norte da cidade.

    Na noite deste domingo (5), já fora do segundo turno, Marina deu sinais de que pretende apoiar Aécio Neves (PSDB), apesar de não ter mencionado o nome do tucano. "O Brasil sinalizou claramente que não concorda com o que está aí" e que reivindica uma "mudança qualificada", disse ela, referindo-se de forma velada à Dilma Rousseff e ao PT.

    Marina foi duramente castigada por Dilma e pelo PT durante a campanha. Acusaram-na de ser financiada por banqueiros, de ter feito alianças com defensores da ditadura militar, de mudar de opinião por casuísmo e até mesmo de mentir. Até mesmo Lula, de quem foi ministra do Meio Ambiente por mais de cinco anos, não a poupou. Marina chegou a chorar ao saber de comentários sarcásticos feitos por Lula, na linha de "não se inventa candidatura de última hora". Logo após votar, Lula soltou mais uma contra Marina, ainda que não tenha pronunciado seu nome: "Quem tinha de falar já falou, quem tinha de gritar já gritou, quem tinha de chorar já chorou.

    Agora, todo mundo se subordina à consciência política do povo que vai votar".

    Integrantes da cúpula do PSB ligados a Amaral pediram ao PT neste domingo que façam afagos em Marina para tentar atraí-la para o colo do partido no segundo turno, marcado para o dia 26 deste mês. Pelo cenho de Marina nos últimos dias, será preciso muito mais de três semanas para a ex-ministra de Lula digerir a enorme mágoa acumulada contra o PT.

    Marina reuniu seus principais interlocutores ontem (6) e marcou para a noite desta terça (7) um encontro da Rede (seu partido que não saiu do papel) para definir a posição de seu grupo político. Já o PSB de Amaral fará outro encontro separadamente.

    A família de Eduardo Campos por sua vez, a começar pela viúva Renata, já sinalizou que vai apoiar Aécio.

    Por maior que seja o empenho de Amaral, é quase impossível o PSB caminhar unido neste segundo turno.

    leonardo souza

    Escreveu até setembro de 2015

    Vencedor de dois prêmios Esso na Folha, atuou na cobertura de política e economia em São Paulo e Brasília.

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