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    Leonardo Souza

    Aécio mereceu perder

    28/10/2014 02h00

    Ninguém melhor para julgar um político do que os eleitores diretamente governados por esse político. Dilma Rousseff fez sua parte. Aécio Neves, não. Dilma obteve vitória esmagadora no Norte e no Nordeste, regiões com o maior número de beneficiários dos programas sociais do governo. Nada mais natural.

    Aécio perdeu duas vezes em Minas Gerais, sua terra natal, quase um feudo herdado do avô Tancredo Neves. Perdeu quando seu candidato ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, foi derrotado no primeiro turno pelo adversário do PT, Fernando Pimentel. Perdeu literalmente para Dilma no segundo turno, com 4,8 pontos percentuais atrás da petista no total de votos válidos (5,979 milhões de votos contra 5,428 milhões, respectivamente).

    Talvez a derrota de Aécio em Minas seja explicada pela soberba, que também pode ser chamada de excesso de autoconfiança. Aécio foi duas vezes governador do Estado, com índices altíssimos de aprovação. Foi eleito com facilidade para o Senado. A razão para a escolha de Pimenta da Veiga deve estar nessa "pré-potência". Pimenta da Veiga estava aposentado da política. Fazia anos afastado do eleitor.

    Se não tivesse tanta certeza da vitória em casa, provavelmente o tucano teria optado por um candidato ao governo do Estado mais preocupado em ir às ruas lutar pelo voto, para si e para ele, Aécio.

    Mas esse não foi o único erro de Aécio. Há pelo menos mais dois a serem considerados: uma linguagem elitizada e o anúncio prematuro do nome de Armínio Fraga para ministro da Fazenda, caso fosse eleito.

    Em seus discursos, o tucano falava para grupos que, em sua maioria, já lhe dariam o voto. Nos debates e entrevistas para a TV, Aécio usava terminologias de economia, palavras comuns para quem está habituado a discussões na Comissão Mista de Orçamento do Congresso. Aécio soltou expressões como PIB (Produto Interno Bruto), contingenciamento, déficits, superávits, meta de inflação etc.

    Mesmo entre os mais escolarizados (maior eleitorado de Aécio), muitos não entendem essa linguagem técnica, esse economês de dar sono –ainda mais nos debates que se encerravam à meia-noite.

    Dilma está longe de ser uma grande comunicadora, mas já saiu com quilômetros de vantagem entre os menos escolarizados, por contar com o Bolsa Família e com a figura de Lula. Nos debates e nos programa de TV, Aécio não aparentou estar preocupado em se dirigir de forma mais fácil, mais clara, para esse brasileiro mais simples, mas cujo voto vale tanto quanto o do mais letrado.

    "O homem é dono do que cala e escravo do que fala". Essa frase, atribuída a Freud, sintetiza o que representou o anúncio de Armínio Fraga para Fazenda. Primeiro, mais uma vez, a soberba. Monta-se equipe de governo depois de eleito, não antes.

    Depois, por mais preparado e respeitado que seja Armínio, seu nome virou vidraça no mesmo minuto em que foi pronunciado por Aécio. Foi fácil para a equipe de Dilma lembrar, ainda que injustamente, que os juros na gestão de Armínio no Banco Central chegaram a 45% ao ano, por exemplo.

    Cabe aí a pergunta: para quê? Poucos, muito poucos, dos que escolheram Aécio decidiram seu voto após saber que seria Armínio seu ministro da Fazenda.

    leonardo souza

    Escreveu até setembro de 2015

    Vencedor de dois prêmios Esso na Folha, atuou na cobertura de política e economia em São Paulo e Brasília.

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