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    Leonardo Souza

    Segundo de Mantega entrou no radar do Coaf

    30/10/2014 02h00

    O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, entrou no radar do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão subordinado à Fazenda para coibir a lavagem de dinheiro. Caffarelli foi parar nos controles do Coaf por ter em seu nome registros, num período de 12 anos, de 19 transações imobiliárias, sendo 16 relacionadas a aquisições –o equivalente a mais de uma por ano.

    Além disso, Caffarelli fez mais três operações de alienação de imóveis no período, compreendido entre 1999 e 2011, e em 2012 contratou seguro para cobertura no valor de R$ 4,13 milhões. Durante esse período, Caffarelli estava no Banco do Brasil, onde entrou por concurso, tendo chegado ao posto de vice-presidente.

    O Coaf recebeu essas informações de forma automática das instituições financeiras e dos agentes cartoriais. Ou seja, não significa que Caffarelli tenha cometido algum tipo de irregularidade. As seguradoras, por exemplo, comunicam ao conselho qualquer apólice acima de R$ 1 milhão.

    "Em relação às operações imobiliárias no período de dezembro de 1999 a novembro de 2011, o secretário esclarece que na verdade realizou um número de transações no período bem menor do que os 19 registros mencionadas. Isso porque o secretário possui propriedade rural em Cândido de Abreu (PR), em sociedade com seus dois irmãos, que foi sendo constituída desde 2007 e possui várias matrículas. Somente um dos lotes que compõe esse imóvel tem oito registros de matrícula. O valor declarado de 1/3 de sua parte ideal é de R$ 111.200,00", informou à coluna a assessoria da Fazenda.

    Caffarelli é um dos cotados na esplanada para substituir o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, que deve ser substituído pela presidente Dilma Rousseff até o final do ano. Caffarelli e Bendine são muito próximos.

    "É importante informar ainda que todas as informações sobre essa e as demais propriedades do secretário constam de suas declarações de Imposto de Renda, encaminhadas anualmente para a Comissão de Ética Pública (CEP), conforme legislação vigente. A CEP também recebe, em formulário próprio detalhado, todas as informações patrimoniais de Caffarelli", completou a assessoria da Fazenda.

    Posteriormente à publicação deste texto, a Cia. de Seguros Aliança do Brasil encaminhou para a coluna a seguinte explicação: "Gostaria de esclarecer que o Sr. Paulo Caffarelli possuía, em 2012, seguro residencial conosco com vigência de 23/05/2012 a 23/05/2013 e que, por erro nosso, foi reportado em duplicidade ao COAF, dobrando assim o valor total de cobertura do mesmo".

    Desse modo, segundo a Aliança do Brasil, o valor da apólice seria R$ 2,065 milhões.

    A Coluna não conseguiu confirmar que tipo de encaminhamento o Coaf deu a partir das informações que recebeu sobre Caffarelli.

    Em 2010, Bendine havia indicado Caffarelli para assumir a presidência da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BB –um colosso com patrimônio superior a R$ 170 bilhões. Caffarelli foi abatido em pleno voo após ter sido alvo de um dossiê que circulou no banco e foi encaminhado para o Palácio do Planalto e para o gabinete do ministro da Fazenda, Guido Mantega, seu atual chefe direto.

    Conforme a Folha revelou na ocasião, em agosto daquele ano, o dossiê trazia acusações de tráfico de influência no BB contra a filha de Mantega, a modelo Marina. Na época, o governo identificou no documento, apócrifo, as digitais da ala do PT egressa do sindicalismo bancário.

    O objetivo era forçar o ministro a desistir de nomear Caffarelli para a presidência da Previ. O documento relatava que Marina havia se encontrado com Caffarelli várias vezes, dentro da sede do BB em São Paulo, para encaminhar pleitos diversos. Na ocasião da reportagem, Caffarelli confirmou à Folha que os encontros realmente ocorreram. Marina, no entanto, negou.

    Caffarelli admitiu ter recebido Marina em três ocasiões e contou quais foram os pedidos. Mas afirmou que nenhum foi levado adiante.

    Na versão de Caffarelli, o primeiro pedido foi para a abertura de conta para a loja de uma amiga. No segundo caso, ela teria solicitado informações sobre uma linha de crédito para exportação de frango. Na terceira, queria renegociar dívidas de uma empresa.

    No último episódio, tratava-se da Gradiente. Marina namorava um dos sócios da empresa, Ricardo Staub.

    Apenas pessoas de dentro da máquina pública saberiam dos encontros de Marina com Caffarelli, que acabou preterido por ordem do Planalto. Os bancários também saíram enfraquecidos do episódio. O nome por eles defendido para assumir a presidência da Previ, Joílson Ferreira, não foi escolhido.

    Três anos e meio depois, em fevereiro deste ano, Mantega alçou Caffarelli ao posto de secretário-executivo da Fazenda, o segundo da pasta, no lugar de Nelson Barbosa, que saíra após desentendimentos com Mantega. Barbosa, agora, é cotado para substituir Mantega. O mundo dá voltas.

    leonardo souza

    Escreveu até setembro de 2015

    Vencedor de dois prêmios Esso na Folha, atuou na cobertura de política e economia em São Paulo e Brasília.

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