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    Leonardo Souza

    Paulo Roberto Costa e o mistério da Petros

    04/11/2014 09h42

    O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa declarou à Receita Federal, em 2011, que no ano anterior havia feito um aporte de R$ 29,945 milhões na Petros, o fundo de pensão dos funcionários da estatal petrolífera. Posteriormente, Costa fez uma retificação de sua declaração, e manteve a informação do aporte milionário.

    O caso chamou a atenção dos auditores do fisco, conforme revelado pela Folha no mês passado. "Importante destacar que, na DIRPF [declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física] do ano-calendário 2010, Paulo Roberto Costa informou elevado pagamento à Fundação Petros [...], no valor de R$ 29.945.480,00", ressaltaram os técnicos da Receita em um dos documentos sobre a evolução patrimonial de Costa.

    Os auditores suspeitam que esse dinheiro, caso exista, teria origem em propina e que Costa teria usado a Petros para lavar os recursos. Pela lei de Combate à Lavagem de dinheiro, aportes financeiros em fundos de previdência em valores superiores a R$ 50 mil têm de ser informados ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

    Começa aí um mistério. Costa informou ao fisco (e depois reconfirmou) ter feito um aporte de R$ 29,945 milhões na Petros –valor quase seiscentas vezes superior ao limite de R$ 50 mil definido em lei.

    Segundo a coluna apurou, a Petros não informou ao Banco Central nem ao Coaf esse aporte milionário que Costa declarou à Receita ter feito no fundo dos funcionários da Petrobras.

    Procurada pela coluna, a Petros informou que não poderia dar detalhes sobre aportes realizados pelos participantes da fundação, por se tratar de informação protegida por sigilo fiscal. Mas a fundação afirmou que informa, rigorosamente, todos os aportes acima de R$ 50 mil ao Coaf.

    Preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, Costa assinou com o Ministério Público um acordo de delação premiada, pelo qual concordou em colaborar nas investigações. Ele também aceitou devolver R$ 70 milhões, entre dinheiro e bens, devido à sua participação em crimes ligados à estatal.

    A maior parte desse dinheiro (R$ 63,2 milhões) está no exterior. Assim, pode-se afirmar que esse aporte na Petros informado ao fisco está fora do acordo de delação premiada.

    Das duas uma: ou Paulo Roberto Costa errou em sua declaração do Imposto de Renda o valor, para mais, do aporte feito na Petros, e manteve o erro na retificadora, ou a Petros, por alguma razão, preferiu não prestar essa informação ao BC e ao Coaf. Se a segunda hipótese for a verdadeira, terá a Petros protegido Paulo Roberto Costa?

    leonardo souza

    Escreveu até setembro de 2015

    Vencedor de dois prêmios Esso na Folha, atuou na cobertura de política e economia em São Paulo e Brasília.

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