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    Leonardo Souza

    A conta do Petrolão também chegou para Gabrielli

    18/12/2014 14h39

    A Polícia Federal estima que a quadrilha de Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e cia tenha desviado bilhões de reais do caixa da Petrobras. A maior parte da pilhagem se deu na gestão do petista José Sérgio Gabrielli, que comandou a Petrobras por sete anos, entre 2005 e 2012. Foi também na era Gabrielli que a Petrobras comprou Pasadena, a sucateada refinaria instalada no Texas (EUA).

    O Tribunal de Contas da União avaliou as perdas da Petrobras com Pasadena em US$ 792 milhões. Nesta quarta (17), a Controladoria Geral da União chegou às mesmas conclusões do TCU: Pasadena foi um desastre e ocasionou prejuízo de US$ 659 milhões à petrolífera brasileira –a diferença entre as estimativas não altera a ordem de grandeza das perdas.

    Gabrielli não concorda com a apuração dos dois órgãos. Em depoimento à CPI mista da Petrobras no Congresso, em junho deste ano, Gabrielli defendeu a aquisição. Disse que Pasadena foi um bom negócio, que foi "barata, abaixo do preço do mercado".

    Segundo a revista "Veja", o doleiro Alberto Youssef, em depoimento prestado à Justiça como parte do acordo de delação premiada, relatou um episódio que afirmou ter ocorrido no final do governo Lula. Youssef contou ter sido convocado por Gabrielli para acalmar uma empresa de publicidade que ameaçara denunciar o esquema de corrupção na estatal. Segundo o doleiro, a empresa reclamava ter pago propina a políticos, antecipadamente, e depois ter tido seu contrato rescindido.

    De acordo com Youssef, Gabrielli determinou a ele que captasse R$ 1 milhão das empreiteiras que participavam do esquema de corrupção na Petrobras para comprar o silêncio da empresa de publicidade. Na delação premiada, o colaborador precisa dar provas do que diz, sob o risco de perder os benefícios do acordo. Não se sabe se Youssef já apresentou provas sobre esse episódio. Portanto não se pode afirmar que o doleiro diz a verdade sobre Gabrielli.

    Ainda assim, os fatos ocorridos na gestão do ex-presidente da estatal são muito fortes, e Gabrielli vinha passando ileso até aqui no escândalo do Petrolão. Nesta semana, a maré começou a virar contra ele.

    Na terça (16), o Ministério Público do Rio de Janeiro entrou com uma ação civil pública contra Gabrielli, o ex-diretor Renato Duque e seis outros gerentes e funcionários da empresa, por improbidade administrativa, sob a suspeita de irregularidades nas obras de ampliação do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) e do Centro de Processamento de Dados da companhia.

    Os promotores responsáveis pelo caso também pediram o bloqueio de bens e a quebra de sigilos bancários e fiscais relativos ao período em que os ex-dirigentes ocuparam os cargos.

    No dia seguinte, a CGU, na mesma auditoria que estimou as perdas com Pasadena em US$ 659 milhões, determinou à Petrobras que instaure processos para cobrar os prejuízos de 22 pessoas apontadas como responsáveis pela aquisição da refinaria, entre as quais Gabrielli. Se for considerado culpado na esfera administrativa por essas perdas, Gabrielli pode ser impedido de ocupar cargos públicos, o que seria um golpe em suas pretensões políticas. Gabrielli é secretário de Planejamento da Bahia e já sonhou em ser governador do Estado.

    Que a Justiça no escândalo da Petrobras, já considerado o maior caso de corrupção do país, seja aplicada a todos aqueles que assaltaram e que permitiram o assalto ao caixa da companhia, sem distinção de cargos nem coloração partidária. E também sem bravatas, como Pasadena ter sido um bom negócio.

    leonardo souza

    Escreveu até setembro de 2015

    Vencedor de dois prêmios Esso na Folha, atuou na cobertura de política e economia em São Paulo e Brasília.

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