• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 11:19:43 -03
    Luciana Coelho

    'Mom' erra no tom, mas acerta no elenco

    15/12/2013 03h00

    FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS abastecem há décadas os roteiristas americanos. O que "Mom", que acaba de ter mais uma leva de dez episódios encomendada para completar sua primeira temporada, tem de diferente é a aposta no matriarcado.

    A "disfuncionalidade" em questão está no fato de as três gerações da família que a série retrata serem de mães adolescentes solteiras ­-e dependentes de álcool em recuperação, no caso da avó (Allison Janney, 54, a C.J. de "The West Wing") e da mãe (Anna Faris, 37, de "Todo Mundo em Pânico 4").

    Não parece material para comédia, e espectadores americanos já reclamam em fóruns na internet que as piadas em torno do abuso de álcool e drogas e de gravidez precoce beiram o mau gosto.

    Há aí certo exagero, até porque nos EUA a série é exibida pela rede aberta CBS, o que impede ousadias maiores. Mas trata-se de uma produção de Chuck Lorre, o mesmo sujeito que trouxe ao mundo "Two and a Half Men". Não há, portanto, sutileza a esperar.

    Divulgação
    Série "Mom", exibida pela Warner. Na foto, da esquerda para a direita: Spencer Daniels (como Luke Blake), Matt Jones (como Baxter) e Anna Faris (como Christy)
    Série "Mom", exibida pela Warner. Na foto, da esquerda para a direita: Spencer Daniels (como Luke Blake), Matt Jones (como Baxter) e Anna Faris (como Christy)

    Lorre tem um estilo que podia ter ficado nos anos 1990, auditório e claque de risadas incluídos.

    Além de ser culpado pela ressurreição midiática de Charlie Sheen, assina as esquemáticas "Big Bang Theory" (que tem seus momentos, mas deixou a criatividade de lado faz tempo) e "Mike and Molly". Se morasse no Brasil, provavelmente produziria "Zorra Total".

    Já a direção de elenco marcou um golaço ao escalar Allison Janney, uma atriz mais vista em teatro e dramas, para interpretar uma avó despirocada e sexy. Sozinha, ela deve garantir a longevidade do programa, cuja audiência até agora se mostrou apenas razoável.

    Sua Bonnie é o que os americanos chamam de "espírito livre", uma mulher de passado dúbio, em dívida com a filha, que não aceita julgamentos, mas mesmo assim quer fazer com que tudo fique bem no final. Imagine a Samantha de "Sex and the City" com netos e menos sofisticação.

    Janney, aliás, merece ovação dupla nesta temporada televisiva. Não só deu alguma profundidade aos roteiros unidimensionais de Lorre como roubou a cena no melhor novo drama do ano, "Masters of Sex" (HBO), no qual vive a esposa frustrada de um reitor universitário.

    Faris não faz feio como a garçonete Christy, centro da trama, e valem muito as participações especiais (Octavia Spencer, de "Histórias Cruzadas", como a trambiqueira de alto nível Regina está ótima).

    Mas são as nuances que Janney enxerta em Bonnie que deixam o espectador -de outra forma restrito a piadas sobre sexo, álcool e negligência familiar- penetrar no conturbado e às vezes triste, e às vezes cáustico, e às vezes encantador mundo das relações entre mães e filhas.

    *

    A primeira temporada de "Mom" é exibida pela Warner todas as terças, às 20h30, com reprises na semana

    *

    Esta coluna estará em licença-maternidade até o início de março. Que os leitores tenham um 2014 com roteiro caprichado.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024