• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 13:52:59 -03
    Luciana Coelho

    'Mad Men' embarca agora em bad trip

    20/04/2014 02h10

    NÃO SE DEIXE levar pela ausência de Don Draper (Jon Hamm) nos oito minutos iniciais da nova —e última, embora vá ser cortada em duas— temporada de "Mad Men", iniciada no Brasil na última segunda.

    O falsário mais charmoso da TV continua a ser o eixo da série sobre publicitários vanguardistas na Nova York dos anos 1960 e suas promessas. Sua falta só ressalta seu poder em cena e o efeito sobre as pessoas com quem se relaciona.

    É nesse pé, com Draper à deriva, que "Mad Men" embarca para os episódios derradeiros, sete agora, sete em 2015. A longa queda que ilustra a abertura do programa está se consolidando, e a pergunta é se, quando o fim chegar, Draper (o nome roubado com que se apresenta na carreira) terá voltado a ser Dick Whitman (o nome com que cresceu) por completo.

    Divulgação
    Jon Hamm como Don Draper em foto promocional da 7ª temporada
    Jon Hamm como Don Draper em foto promocional da 7ª temporada

    Chegamos a 1969, e o protagonista está parado no tempo, preso na imagem lustrosa que criou para fugir de seu passado de órfão. Ele nunca esteve tão sozinho.

    Não vai mais à agência, embora continue a alimentá-la com seus insights. Seu casamento está oco, subexistindo na ponte aérea. Mesmo do fôlego de "pegador" sobrou pouco: uma troca de galanteios com uma anônima sentada ao seu lado no avião (Neve Campbell, ressurgida) termina na história pouco alvissareira do marido genial que morreu em decorrência do alcoolismo.

    Infelizes parecem também todos os demais personagens: a ascensão de Peggy (Elisabeth Moss), crucial à trama, se mostrou mais frágil do que ela pensava; Joan (Christina Hendricks), agora executiva, continua a ser tratada como supersecretária; Megan (Jessica Paré) conquistou o estrelato mas não se livrou da insegurança; Betty (January Jones) e a filha, Sally (a ótima Kiernan Shipka), nem aparecem.

    Roger (John Slatery) se perdeu em suas orgias; o sensível Ken (Aaron Stanton) está caolho e virou mais um estressadinho de escritório; Chaough (Kevin Rahm) vive à sombra de sua covardia. Só Pete Campbell (Vincent Kartheiser), a antítese de Draper, parece feliz com sua vida nova, livre e ensolarada na Califórnia.

    Que tudo isso aconteça em um período turbulento da história recente, retratado com pesquisa histórica, produção de cena e fotografia impecáveis, só firma "Mad Men" como o que levou o termo "nova era de ouro da TV" a ser cunhado ("Família Soprano" foi a precursora, mas era vista como um produto isolado).

    Mas a série deixou de ser sobre publicidade faz tempo para tratar quase que só de desequilíbrio emocional. Mergulhando às vezes demais no existencialismo, afastou parte dos telespectadores. A última temporada precisa e deve reconciliá-los.

    O responsável pela obra, Matt Weiner, já avisou que o final que planeja não agradará a todos. Pode ser verdade, pode ser promessa, pode ser só para esvaziar expectativas após sete anos. Seja como for o "reencontro" de Draper com seu Dick Whitman interior, não passaremos incólumes por ele.

    A sétima temporada de "Mad Men" é exibida às segundas, 21h, pela HBO, com reprises durante a semana.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024