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    Luciana Coelho

    Piadas afiadas marcam série sobre nerds

    11/05/2014 02h00

    MIKE JUDGE é um sujeito que nem precisava fazer mais nada pela cultura pop após marcar uma geração com a catártica animação "Beavis e Butt-Head" e fazer para o cinema o hilário -e subvalorizado- "Como Enlouquecer Seu Chefe" ("Office Space", 1999). Mas, sorte nossa, ele fez de novo. Estupidamente bem.

    "Silicon Valley", sua empreitada mais recente, mostra que a cultura americana e a geração jovem que ela produz são sempre material tentador para quem vive da comédia crítica.

    A série em oito episódios, no ar pela HBO, acompanha as tentativas do socialmente inepto Richard (Thomas Middleditch) de criar uma empresa que produz um aplicativo que comprime arquivos e prosperar em um Vale do Silício onde todo mundo se acha o próximo Steve Jobs e/ou o salvador do mundo.

    Conta para isso com dois amigos programadores (Martin Starr e Kumail Nanjiani), um "bon vivant" que lhes empresta a casa como "incubadora" em troca de um naco da empresa (T.J. Miller) e um desengonçado nerd das finanças (Zach Woods, se especializando nesse tipo de papel).

    Divulgação
    Cena da série 'Silicon Valley', que acompanha uma start-up nos EUA
    Cena da série 'Silicon Valley', que acompanha uma start-up nos EUA

    O cenário californiano pode ser novo, mas trata-se do mesmo tipo de material que deu origem a seus personagens anteriores —com a graça de fazer troça com o El Dorado da vez, a (antes intocável) indústria da tecnologia e o modo de vida particular criado em torno dela.

    Salões amplos com mesas de ping-pong podem ser um ambiente mais interessante do que os cubículos de firmas-coxinha como a de "Office Space", porém as frustrações do dia a dia de seus funcionários não diferem tanto assim. E como em "Beavis e Butt-Head", o universo dos personagens de Judge é puramente masculino e de tipos pouco amadurecidos.

    A série tem sido aplaudida por publicações especializadas e conhecedores do meio (uma segunda temporada foi encomendada). Quem já teve contato com uma empresa de tecnologia americana sabe que as idiossincrasias ali têm o mesmo poder de atração que o produto a vender.

    O sucesso, entretanto, não vem só dessa identificação com o que é ou se pensa ser o polo de inovação dos EUA. Vem, sobretudo, de diálogos bem escritos e de uma quantidade de piadas afiadas comparável hoje apenas com "Veep", a sátira protagonizada por Julia Louis-Dreyfus à também peculiar política dos EUA.

    Esse resultado é fruto de esforço. Judge e seu time de roteiristas, com gente que trabalhou com Jerry Seinfeld e Sacha "Borat" Baron Cohen, se embrenharam em firmas reais para observar seu cotidiano (Judge, aliás, havia trabalhado como programador em sua vida pregressa), o que dá à série valor cultural fundamental.

    A principal reviravolta no roteiro, contudo, veio da vida real: a morte de Christopher Evan Welch, intérprete do empreendedor Peter Gregory, que faz muito dinheiro, mas não consegue encarar ninguém quando fala. Seu último episódio foi exibido na semana passada. Será interessante ver como a série seguirá sem seu personagem mais bem sacado.

    "Silicon Valley" é exibida às 22h30 às terças na HBO com reprises durante a semana.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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