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    Luciana Coelho

    'Projeto Mindy' cativa com despretensão

    DE SÃO PAULO

    22/06/2014 02h00

    NA LEVA DE comediantes capazes de provar que o jornalista Christopher Hitchens (1949-2011) estava errado ao escrever, em 2007, que mulheres não sabem fazer graça, a norte-americana de origem indiana Mindy Kaling chama a atenção.

    Não porque pertença a uma minoria étnica, seja cheinha (ela já reclamou de ser chamada de "feia" e "gorda" por repórteres, embora não o seja) ou tenha os amigos mais legais da TV. Mas porque Mindy é, ao mesmo tempo, aquela menina que prefere andar com meninos, e, ainda assim, faz um humor profundamente feminino.

    "Projeto Mindy", a série que ela criou, escreve, protagoniza e que estreou no Brasil em maio, reflete isso.

    Tem seu quê de "Girls", "New Girl" e até "Sex and the City", vá lá. A diferença é que Mindy, embora fale sem parar como Lena "Preciso-Ficar-Pelada" Dunham, tem graça; e, apesar do sucesso, convence como "loser" (ao contrário de Zooey Deschanel em "New Girl").

    Divulgação
    Ed Weeks, Mindy Kaling e Chris Messina, da série 'Projeto Mindy'
    Ed Weeks, Mindy Kaling e Chris Messina, da série 'Projeto Mindy'

    Não fosse seu humor ultra autorreferente, ela estaria no mesmo time da genial Tina Fey, ainda que com um quê mulherzinha. Ao contrário da ex-roteirista-chefe de "Saturday Night Live", porém, a humorista nascida Vera Mindy Chokalingam, 35 anos nesta terça, escreve muito melhor para si mesma do que para os colegas.

    Por isso, as melhores cenas de "Projeto Mindy" são diálogos aparentemente improvisados com atores-amigos em participações especiais, como BJ Novak (seu par romântico em "The Office" e coprodutor da série), Seth Rogen e James Franco, nos quais a química é perfeita e ela sempre vence a queda de braço de piadas.

    O mote da série importa pouco -uma bem-sucedida ginecologista (profissão da mãe da atriz na vida real) cercada de colegas ególatras (Chris Messina, o herdeiro mimado de "Newsroom", e Ed Weeks, também roteirista) caça o amor perfeito em Manhattan sem notar, como suas heroínas de comédia romântica, que ele está ao lado.

    Mas "Projeto Mindy" tem uma qualidade extra, uma inteligência discreta.

    Sendo a cara de sua autora, é despretensiosa e muito pop, a ponto de parecer fútil (se você não pescou os nomes neste texto, aliás, talvez não curta a série). Mas suas tiradas rápidas são fruto de observação cotidiana arguta, logo captada por quem tem de 20 e tantos a 40 e poucos anos, sem a histeria pretensiosa de "Girls" nem o verniz de felicidade irrealista de "Friends".

    Raridade, a história melhora a cada episódio, inclusive em audiência e avaliação da crítica. A terceira temporada estreia nos EUA no próximo semestre.

    "Projeto Mindy" não pretende ser um marco na TV. Com seus episódios de menos de meia hora que podem ser vistos sem compromisso, entretanto, é excelente diversão para uma geração com deficit de atenção e sempre ligada em tudo.

    "Projeto Mindy" passa às 20:10, toda quarta-feira, no TBS muitodivertido

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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