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    Luciana Coelho

    'Homeland' volta revigorada sem Brody

    12/10/2014 02h00

    Para salvar a novela "Anastácia, a Mulher Sem Destino" (1967), a autora Janete Clair inventou um terremoto. Assim, poderia matar de forma verossímil metade dos personagens, avançar alguns anos e recomeçar a trama, livre do imbróglio insustentável em que ela se transformara.

    A mesma saída foi encontrada pelos produtores de "Homeland", um drama que começou muito bom, ficou péssimo na segunda temporada e esquisito na terceira, encerrada de forma chocante (e, em retrospecto, inteligente). Sem ninguém da chatíssima família Brody à vista, a série do canal Showtime volta aos trilhos de alta tensão que fizeram dela o programa preferido do presidente dos EUA, Barack Obama, em 2011.

    A quarta temporada estreou nos EUA no último domingo (5) com episódio duplo que a Showtime disponibilizou em seu site, mas com acesso permitido apenas a partir dos EUA.

    Joe Alblas/Showtime
    Os atores Claire Danes e Rupert Friend em cena do 4° ano de 'Homeland'
    Os atores Claire Danes e Rupert Friend em cena do 4° ano de 'Homeland'

    Sem o sargento-terrorista Nicholas Brody (Damian Lewis) para continuar a modorrenta história romântica dos dois, reencontramos Carrie Mathison (Claire Danes), a agente bipolar da CIA, em Cabul, fazendo jus ao apelido de "Rainha dos Drones" que ganhou dos subordinados.

    Para quem se lembra, ela deveria estar em Istambul (Turquia), criando a filha pequena e chefiando um posto mais tranquilo da agência central de inteligência americana. Mas, como ela explica, "o posto afegão desocupou primeiro". E Carrie, já sabemos, gosta é de problema. Deixou a menina com sua irmã e seu pai e partiu para a zona de guerra.

    Não são só o cenário e o elenco, porém, que mudaram. A personagem, que captou a simpatia do público por ser extremamente humana em seus defeitos e vulnerabilidades, agora é fria, distante, implacável.

    Continua bebendo, continua se entupindo de remédios para dormir, mas nada mais no mundo pode comovê-la —seja a solidão profunda, seja a morte de dezenas de civis por um erro seu e a ameaça política que isso representa, seja o linchamento de um colega diante de seus olhos.

    O efeito disso no roteiro é tremendo; a nova personalidade à la Jack Bauer da protagonista mantém o nível de adrenalina no ápice, ainda que para quem acompanhasse a série vê-la assim seja um tanto doído.

    Mas se ela incorpora o personagem de Kiefer Sutherland em "24 Horas", "Homeland" continua bem mais crítica, em termos políticos, do que as temporadas mais antigas, como cabe em um momento em que os americanos questionam a eficácia de seus ataques "cirúrgicos" com drones no Paquistão e Afeganistão.

    O antagonista nesta temporada será o estudante de medicina Aayan Ibrahim (o competente Suraj Sharma, de "As Aventuras de Pi"), cuja família é morta, acidentalmente, em um desses bombardeios.

    Outros conhecidos do espectador, como Saul (o ótimo Mandy Patinkin) e Quinn (Rupert Friend), também dão as caras. O primeiro agora como consultor de uma empresa de defesa, vivendo em Nova York; o segundo como agente no Paquistão. Corey Stoll (de "House of Cards") faz uma participação especial.

    Mas o espetáculo é de Carrie, e, desta vez, sem nada para lhe fazer sombra.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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