• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 17:47:35 -03
    Luciana Coelho

    'The Affair' inaugura romance psicológico

    09/11/2014 02h00

    ALGUMA COISA deu muito errado no caso entre os dois; ele tem sua versão, ela tem a dela, e ao espectador resta escolher em quem acreditar –com boa chance de mudar de lado a cada um dos dez capítulos.

    É essa a premissa da ótima "The Affair", série que o canal Showtime estreou nos EUA no mês passado e que talvez possa ser classificada como o primeiro romance-psicológico-de-mistério na TV.

    Concebida pelo roteirista e produtor israelense Hagai Levi, o mesmo da bem sucedida franquia de "In Treatment"/ "Sessão de Terapia", "The Affair" trata do caso extraconjugal entre o professor e escritor Noah (Dominic West, atenção, fãs de "The Wire"), casado e pai de quatro filhos, e a garçonete Alison (Ruth Wilson, de "Luther"), casada e mãe de um garotinho que morreu em um verão nos Hamptons, balneário afluente a leste de Nova York.

    Mas em vez de focar o sexo ou o amor entre os personagens centrais –e olha que há sexo de sobra–, "The Affair" investe nos efeitos psicológicos que o envolvimento (e o que decorre dele) deixa no par e em seus respectivos cônjuges (a dele é interpretada pela excelente Maura Tierney, de "Plantão Médico", e o dela, por Joshua Jackson, o eterno Pacey de "Dawson's Creek").

    Craig Blankenhorn/Showtime/Divulgação
    Dominic West e Ruth Wilson em cena do primeiro episódio de 'The Affair
    Dominic West e Ruth Wilson em cena do primeiro episódio de 'The Affair'

    A boa sacada dos roteiristas é fazer os protagonistas contarem a história em retrospecto a um policial, separadamente, e entremear tudo a flashbacks baseados apenas no que cada um assimilou dos fatos.

    Assim, o espectador sabe que algo ruim aconteceu, mas não sabe o quê, e sabe que os personagens têm interpretações e lembranças díspares, mas não sabe quais são reais.

    No episódio piloto, por exemplo, Noah lembra de Alison como uma sedutora e conta que salvou a filha pequena quando ela se engasgou na lanchonete onde a garçonete trabalhava. Já a impressão de Alison sobre si mesma é de alguém resguardada, e foi Noah quem chegou junto, após ela salvar a menina.

    O que é contado pela garçonete, a princípio, parece mais verdadeiro e menos clichê do que aquilo narrado pelo escritor –ao menos para quem se identifica com o ponto de vista feminino (sim, o roteiro chega a esse ponto de refinamento).

    "Queríamos contar a história de duas pessoas boas, comprometidas com seus casamentos", afirmou a roteirista Sarah Treem ao site "HitFix", explicando que buscou aproximar seus personagens do espectador, sem maniqueísmos. Audiência e crítica reagiram bem.

    As linhas temporais paralelas que a série mantém –primeiro entre presente e passado, depois com o futuro– levaram comentaristas nos EUA a compararem a série com "True Detective", drama da HBO exibido no começo do ano que virou cult. Mas embora tenha um roteiro sofisticado, bem acima da média, "The Affair" é menos ousada e transcendental que a predecessora.

    Para uns, isso pode ser um demérito, mas para outros será um alívio.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024