• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 20:50:35 -03
    Luciana Coelho

    'Olive Kitteridge' é melhor trabalho de atriz

    16/11/2014 15h35

    Frances McDormand é uma atriz que tem voado abaixo do radar, mas deixado uma marca inequívoca. Foi assim em "Fargo", filme que lhe rendeu o Oscar em 1997 (ela foi indicada ao prêmio mais três vezes), e na maioria dos trabalhos com o marido Joel, e o cunhado, Ethan Coen. É assim na nova "Olive Kitteridge", minissérie que a HBO exibirá em dezembro.

    McDormand, 57, é bonita não a ponto de chamar a atenção por isso e ao longo da carreira especializou-se em personagens na linha "mulher sem frescura": diretas, ora doces ora azedas, sempre pé-no-chão e com um humor sarcástico. Nunca sobe muitos decibéis em suas performances, mas nem por isso se mostra menos versátil.

    A personagem que dá título à série, uma professora de matemática que é apresentada ao espectador quando contempla o suicídio, é o trabalho que faltava para mostrar que a atriz, aos 57, não merece menos respeito que uma Meryl Streep.

    Divulgação
    Frances McDormand e Richard Jenkins como Olive e Henry na série
    Frances McDormand e Richard Jenkins como Olive e Henry na série

    "Olive Kitteridge" é adaptada do livro homônimo de Elizabeth Strout de 2008 (sem tradução no Brasil), que venceu o prêmio Pulitzer, um dos mais importantes dos EUA.

    Um daqueles romances calcados mais nos personagens e no lugar onde eles vivem do que em acontecimentos extraordinários, conta, por 25 anos, a história de Olive, uma mulher dura consigo e com o mundo, a partir da relação com o marido, Henry, o filho, Chris, e outros moradores de uma cidadezinha costeira no Estado do Maine, norte dos EUA.

    Felizmente, a história, cheia de delicadezas, foi parar na TV pelas mãos sensíveis de Lisa Cholodenko, diretora do bonito "Minhas Mães e Meu Pai" (conhecido pelo título original, "The Kids Are All Right", de 2010). Não fosse McDormand mulher de Joel Coen, daria para dizer que a parceria de atriz e diretora em "Olive" é o casamento perfeito.

    Cholodenko define sua minissérie como uma história "sobre como as pessoas se tratam e a vida se desenrola". Não há momentos de suspense –ainda que seja angustiante passar a minissérie toda pensando se Olive vai ou não se matar– nem grandes risadas –embora o humor, o mau humor da personagem central, seja um elemento essencial.

    Isso não torna a série menos fascinante, com boas performances de Richard Jenkins (como Henry), John Gallagher Jr. (o Jim Harper, de "Newsroom", como Chris) e Zoe Kazan (Denise, a funcionária da farmácia de Henry de quem ele cuida amorosamente). Bill Murray faz uma participação especial.

    "Olive" marca também o bom momento das minisséries, esse híbrido mais próximo do cinema do que dos seriados, que ressurgiu na TV como produto bem acabado antes de os seriados virarem obras de arte.

    "Top of the Lake", de Jane Campion, "Fargo", inspirada no filme, e a inglesa "Happy Valley", elogiada nesta coluna, são outros títulos que merecem atenção. Nenhuma, porém, tem Frances McDormand.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024