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    Luciana Coelho

    'State of Affairs' aposta em Katherine Heigl

    30/11/2014 02h00

    Washington nunca foi tão sexy. Como se "House of Cards", "Homeland", "Scandal", "Madam Secretary", "Veep", "24 Horas", "Blacklist", "Alpha House" e (de certa forma) "Tyrant" não fossem suficientes, a overdose de séries centradas na política doméstica e externa dos EUA ganhou neste mês a décima –DÉCIMA– integrante, "State of Affairs".

    Sem nada tão diferente a explorar, o novo drama de espionagem política do canal NBC pega um e outro elemento das produções rivais, dilui para o público menos atento a detalhes e aposta no carisma da protagonista, Katherine Heigl.

    O resultado, dois capítulos após a estreia, ainda é duvidoso, embora tenha potencial para entreter.

    Michael Parmelee/NBC/Divulgação
    Katherine Heigl como a agente Charleston Tucker em 'State of Affairs
    Katherine Heigl como a agente Charleston Tucker em 'State of Affairs'

    Heigl surgiu para o mundo como a doutora Izzie Stevens no açucarado –e longevo– drama romântico-hospitalar "Grey's Anatomy". Firmou-se no cinema como protagonista de comédias românticas, nas quais inevitavelmente faz a moça linda e atrapalhada com dificuldades de se entender com o amor.

    É difícil, portanto, olhar para a agente da CIA Charleston Tucker, que ela interpreta em "State of Affairs", e esperar um personagem mais denso –e mesmo mais tenso. A comparação automática com a também loira Claire Danes, que em "Homeland" interpreta outra agente da CIA atormentada e porra-louca, pouco ajuda Heigl. Pior ainda se o páreo for com a atual temporada, na qual Danes está genial.

    Mas se o talento neste caso é mais limitado, o magnetismo de Heigl em cena é inquestionável. Por causa dele, em um exercício imaginário em que o espectador desconheça "Homeland" e "Grey's Anatomy" e as comparações possam ser deixadas de lado, é possível que "State" consiga entreter como uma boa novela.

    A história narrada ainda não ficou clara o suficiente nos primeiros capítulos, nem ao menos se a protagonista é heroína ou vilã –o que dramaturgicamente é bom.

    Sabe-se que ela é a encarregada de informar diariamente o que acontece no mundo à presidente dos EUA, Constance Payton (a ótima Alfre Woodard, a Betty de "Desperate Housewives"), que, como só convém a uma boa novela, é também sua ex-sogra. O desejo de vingança une as duas, já que o noivo/filho em questão morreu em um atentado nebuloso no Afeganistão no qual Tucker estava presente.

    O papel da agente da CIA no incidente, bem como sua conexão com um ex-colega foragido (Chris McKenna) e até com um terrorista procurado (Farshad Farahat), não estão claros. Tampouco está estabelecida sua relação com o pai, ele também envolvido com espionagem (eis aí a pitada de "Scandal").

    O que os roteiristas precisam agora é escolher um caminho a trilhar.

    Há doses de romance (e um providencial antagonismo da personagem de Heigl com um colega de trabalho), drama familiar embalado por trilha sonora melosa, drama psicológico com direito a cenas de sessão de terapia e sexo casual para preencher vazios existenciais, ação inspirada em jogos de videogame e –pasme– até uma tentativa de fazer suspense com burocratas, impressoras, pastas e relatórios.

    Assim, até a sem graça "Madam Secretary", com a insossa Téa Leoni, se sai melhor em audiência. Aliás, pergunta aos produtores: quantas agentes loiras da CIA a TV americana comporta?

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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