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    Luciana Coelho

    Nova 'Bloodline' naufraga ao esticar boa premissa

    29/03/2015 02h00

    A meio caminho do quinto episódio do drama "Bloodline", que o Netflix estreou no último dia 20, a personagem de Sissy Spacek explica a um casal de turistas a graça dos recifes locais: há tanta vida escondida ali, "tudo a nossa volta o tempo todo, e nós raramente conseguimos enxergá-la" sem mergulhar.

    Sally, a personagem, está falando da natureza do sul da Flórida, mas poderia estar descrevendo o enredo do drama em 13 episódios (todos disponíveis no site de streaming) sobre uma família desestruturada que mantém uma pousada tradicional na região.

    Merrick Morton
    Sissy Spacek, que interpreta Sally Rayburn na série 'Bloodline
    Sissy Spacek, que interpreta Sally Rayburn na série 'Bloodline'

    À primeira vista, os Rayburn são invejáveis e felizes, até para eles mesmos; um mergulho já no primeiro episódio mostra um turbilhão de vida -de sentimentos e histórias- que não chega à superfície, movido sobretudo pela dificuldade de cada um de lidar com a morte, seja ela passada, iminente ou pendente.

    Robert, o pai, interpretado por Sam Shepard ("Os Eleitos"), é um sujeito que construiu naquele pedaço de praia o próprio paraíso, como lembra um dos filhos, onde ele dá as ordens e recria as memórias. Sally (Spacek, infalível), a mãe, é a sustentação, às vezes esmagada por tanto peso. Os quatro filhos seguem os estereótipos dos folhetins.

    Há Danny, o mais velho e preterido, que volta para casa após longa ausência (o desconhecido Ben Mendelsohn, na melhor interpretação da série); há Kevin (Norbert Leo Butz), o caçula, que quer suceder o pai sem ter se encontrado na vida; há Meg (Linda Cardellini, a amante italiana de "Mad Men"), garota exemplar e nunca satisfeita.

    E há John (Kyle Chandler, de "Friday Night Lights"), o narrador, um xerife que se sente obrigado a por ordem na casa. Desde a primeira cena, ele alerta que algo ruim aconteceu e ele é corresponsável.

    Apesar do argumento promissor, "Bloodline" não sustenta a narrativa. A trama, segundo os produtores, foi pensada como se fosse um episódio único ou um filme. Só que esse filme tem mais de 10 horas e poucos desdobramentos para manter o espectador fisgado por todas elas.

    Alguns resenhistas ressaltam que na reta final o enredo decola; nenhuma série que não engrena até o quarto episódio, porém, merece manter o espectador em tempos de oferta vasta de boa ficção na TV.

    Além disso, com a ambição de fazer um produto bem embalado (elenco e fotografia são notáveis) porém de consumo fácil para um público mais amplo, o Netflix tropeçou e não fez uma coisa nem outra.

    Para os exigentes, "Bloodline" tem clichês em excesso e nem remotamente mantém a tensão de "Damages", dos mesmos produtores; para quem quer apenas distração, exige atenção demais para acompanhar todas as linhas temporais em que a história acontece -nenhuma interessante como os saltos de tempo de, por exemplo, "True Detective". Aos pacientes, boa sorte.

    "Bloodline" está disponível no Netflix

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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