• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 18:12:35 -03
    Luciana Coelho

    'Grace e Frankie', nova série de ex-'Friends' vê amor após os 70

    10/05/2015 02h00

    "Grace e Frankie", a comédia com Jane Fonda e Lily Tomlin que a Netflix estreou na última sexta (8), está longe do amor à primeira vista. É aquele tipo de sitcom que começa meio engessada, com cara de filme da Diane Keaton esticado, vai conquistando aos pouquinhos, deixando os personagens crescerem, até fisgar o espectador sem alarde.

    Curioso o site de vídeos e filmes por streaming disponibilizar a série em lote, os 13 episódios de meia hora de uma só vez, já que o ritmo e a temática não inspiram uma maratona.

    Cria de Marta Kauffman, que marcou uma geração de espectadores com "Friends" (1994-2004), a série foge do padrão obsessivamente juvenil da maioria dos produtos do gênero ao apostar em quatro protagonistas septuagenários, mas cujo carisma é capaz de cativar plateias de qualquer idade.

    Divulgação
    Lily Tomlin, June Diane Raphael and Jane Fonda na série 'Grace and Frankie'
    Lily Tomlin, June Diane Raphael and Jane Fonda na série 'Grace and Frankie'

    Juntos, Fonda, 77, Tomlin, 75, Martin Sheen, 74 e Sam Waterston, 74, somam respeitáveis 300 anos.

    As duas, reeditando a parceria nascida há 35 anos com "Como Matar seu Chefe", interpretam as amigas/rivais que dão título à série, a classuda e sangue-quente Grace (Fonda) e a eternamente hippie Frankie (Tomlin), abruptamente deixadas pelos maridos quando estes resolvem sair do armário e viver juntos seus últimos anos de vida.

    Confortáveis nos papeis, talvez um tanto acomodadas até, as atrizes usam seu infalível timing cômico para reeditar as gags e os diálogos costumeiros em filmes que tratam de mulheres mais velhas.

    São Waterston ("The Newsroom", na qual já contracenava com Fonda) e Sheen ("The West Wing - Nos Bastidores do Poder") que, como os parceiros em um escritório de advocacia –"mas não só nisso", como desajeitadamente tentam explicar aos amigos ao se anunciarem gays– Sol e Robert, constroem personagens memoráveis.

    A sutileza com que apresentam a relação entre si, evitando estereótipos e nem por isso afundando em pregações politicamente corretas ou lições de moral, é que faz "Grace e Frankie" valer a pena. A cena do quarto episódio em que eles combinam como se portar no funeral de um conhecido, sua primeira aparição como casal, é de um humor terno há muito em falta por aí.

    As agruras dos dois pares de filhos de cada ex-casal para lidar com a nova configuração familiar produzem também bons momentos, embora não tão contundentes e ferinos quanto os de outra série recente que fala com humor de questões de sexo e gênero na terceira idade, "Transparent" (da Amazon).

    É o quarteto central, porém, dotado de uma dimensão extra a cada episódio, que faz diferença.

    Kauffman, que vinha se dedicando a documentários e curtas-metragens desde que "Friends" saiu do ar, tomou uma distância saudável das sitcoms para não ser assombrada pelo próprio sucesso. Parece ter dado certo. A passagem do tempo, neste caso, fez bem a todos.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024