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    Luciana Coelho

    Com 'Wet Hot American Summer', Netflix apela para a nostalgia

    25/07/2015 17h04

    Há certa inocência perdida, e talvez fora de lugar, na comédia em oito episódios "Wet Hot American Summer: First Day of Camp", que o Netflix disponibiliza nesta sexta (31).

    Feita para ser o prólogo de um filme cult de 2001 que em si já era uma ode à nostalgia (neste caso, ao cinema juvenil dos anos 1980), é difícil saber qual público a série mira: se os adolescentes de então, hoje com 30 e muitos ou 40 e poucos anos, ou os adolescentes de agora.

    Os primeiros certamente serão fisgados pelo apelo saudosista e o elenco de ex-estrelas de "Saturday Night Live" e da comédia despretensiosa americana que abraçaram o projeto de "Wet Hot..." (algo como "verão americano quente e úmido, o primeiro dia de acampamento de férias") em peso.

    Mas podem já estar cansados demais para, ao fim de um dia longo de trabalho, achar graça de comediantes de 40 anos interpretando monitores de acampamento de 18.

    Os últimos, jovens de agora, com a atenção dividida entre múltiplas telas, podem estranhar o ritmo dessa comédia sem tiradas rápidas, cenas de ação, críticas geracionais verborrágicas nem apelos musicais.

    "Wet Hot..." se passa em 1981 e versa sobre um acampamento de férias, obviamente, e tudo aquilo que os americanos gostam de reconhecer como seus valores. Os principais nomes do elenco –Janeane Garofalo, Paul Rudd, Amy Poehler, Molly Shannon– participaram também do filme (no Brasil, "Mais um Verão Americano"), que mostrava o último dia no campo Firewood.

    No meio disso, uma jornalista que se acha veteraníssima aos 24 (Elizabeth Banks, de "Jogos Vorazes") decide se passar por adolescente para investigar o que eles fazem longe dos pais. A narração de fundo da repórter, tão fora de uso hoje como a fumaça de cigarro que enche a redação da revista nova-iorquina onde ela trabalha, conduz a história.

    O diretor, David Wain (que na série interpreta o instrutor de futebol Yaron), também é o mesmo. A versão cinematográfica foi um fracasso de bilheteria, mas arregimentou uma legião pequena e fiel de fãs a ponto de sustentar esse revival. O potencial da série é uma incógnita.

    Esse gosto de fim de infância, o figurino esdrúxulo da época e o elenco são capazes de atiçar a curiosidade, despertar carinho e garantir a atenção num primeiro momento.

    Passada a fascinação inicial, porém, a série parece aquele reencontro de turma do colégio: há saudade, é bom se lembrar daquela época bacana, mas todos parecem tão fora de lugar e pouco à vontade que o interesse logo acaba.

    Há boas cenas –o casalzinho feito por Poehler e Bradley Cooper é engraçadíssimo– e grandes participações especiais, como John Slattery, de "Mad Men", fazendo um diretor de teatro mulherengo.

    Se é para ser nostálgico ou ensinar algo sobre os anos 1980 às novas gerações, no entanto, melhor rever "Anos Incríveis" –indisponível no Netflix, aliás– ou qualquer filme de John Hughes (1950-2009).

    "Wet Hot American Summer: First Day of Camp" estreia dia 31 no Netflix

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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