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    Luciana Coelho

    Com amor entre irmãos, Neil LaBute faz comédia romântica

    15/08/2015 17h05

    A comédia romântica costuma ser um gênero talhado para agradar, carregado de clichês, saídas fáceis e pouco, muito pouco, de ideias originais. Não que isso seja sempre ruim. Se a química entre o par central é certeira e os diálogos são bem escritos, é difícil o espectador não se deixar seduzir.

    Exceto, claro, os cínicos.

    Cena da série 'Billy & Billie'

    É para eles que Neil LaBute, roteirista e diretor do agoniante "Na Companhia dos Homens", um dos muitos pequenos clássicos que os anos 1990 produziram, escreveu "Billy & Billie", produzida pela DirecTV e exibida nos Estados Unidos de março a maio deste ano.

    Para ver no Brasil, é preciso comprar pela loja do iTunes americana ­(um gaiato colocou os dez episódio de 25 minutos no YouTube).

    LaBute, um nativo de Detroit de 52 anos que já se converteu ao mormonismo e depois abandonou essa fé, é um provocador contumaz para quem o adjetivo "cínico" não passa de paliativo.

    Textos a seu respeito costumam lembrar espectadores de suas peças clamando por sua morte e descrevem detalhadamente seu interesse pelo que há de mais mesquinho nas pessoas.

    PEQUENAS NEUROSES

    Surpreende, portanto, que ele acerte a mão em sua primeira incursão televisiva pelo gênero (sua segunda em séries; a primeira é "Full Circle" de 2013). Mas é claro que "Billy & Billie" não se trata de uma comédia romântica qualquer.

    O casal em questão, interpretado por Adam Brody (de "O.C.") e Lisa Joyce ("Boardwalk Empire") é também um casal de irmãos de criação.

    Não há incesto em questão –o pai dele e a mãe dela se casaram quando os dois eram adolescentes–, mas a dúvida moral é trazida à tona toda hora.

    É algo pequeno na escala Neil LaBute de niilismo. "Billy & Billie", afinal, é uma delícia de assistir, mesmo que vez por outra o espectador se questione se é doentio em gostar daquele casal ou torcer por ele.

    Uma explicação é que a química entre Brody e Joyce é incrível, e ambos são absurdamente sedutores. Brody é um bom ator, que já merecia mais do que papeis pequenos em filmes de aventura ou heróis adolescentes. Joyce é ainda melhor. Os diálogos perfeitamente escritos da série só evidenciam isso.

    A outra razão é a forma como LaBute costura sua história, ou os fiapos dela, já que o foco recai muito mais sobre os personagens do que sobre a ação.

    "Billy & Billie" não trata apenas do relacionamento entre os dois, trata de relacionamentos de todo o tipo: relações de trabalho; relações familiares; relações de prestação de serviço; amizades e, sim, relações entre irmãos. Todos a ponto de explodir.

    Das pequenas neuroses cotidianas, como o excesso de zelo com a comida, até questões mais soturnas, como alcoolismo, é tudo costurado com tamanha delicadeza que o incômodo tão comum em sua obra dá lugar a uma inédita empatia.

    Mais do que niilista, Neil LaBute é um grande manipulador.

    "Billy & Billie" está disponível no iTunes

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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