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    Luciana Coelho

    Nova 'Life in Pieces' faz comédia homeopática

    24/10/2015 17h02

    De Al Bundy a Homer Simpson; de Jay Pritchett (o ator Ed O'Neill parece ter predileção pelo papel) a Michael Bluth, famílias disfuncionais são a base das sitcoms americanas.

    A fórmula foi usado tantas vezes que serve como uma espécie de "índice Big Mac" para testar a qualidade de atores e diálogos para qualquer canal, público ou época, já que o argumento é sempre o mesmo, com uma e outra mudança na roupagem.

    Divulgação
    Cena do seriado "Life in Pieces"
    Dianne Wiest e James Brolin são os avós da família Short em "Life in Pieces"

    "Life in Pieces", comédia que a rede americana CBS estreou no fim de setembro e ainda sem data para chegar ao Brasil, sai-se bem nos dois quesitos. Acompanha a vida dos Short, pais perto dos 70 anos e três filhos adultos -a casada mãe de três, o casado pai de recém-nascida e o divorciado em busca de amor.

    A sacada é a forma de conduzir o enredo: em pequenos esquetes, com historietas quase anedóticas dos diversos personagens que, juntas, compõem o retrato daquela família. O nome "Short", "curto" em inglês, não é à toa: cada episódio tem apenas 20 minutos e quatro dessas historinhas.

    Cada historinha tem no máximo sete minutos, e não há ordem cronológica precisa —o que casa perfeitamente com a (baixa) capacidade de atenção atual do espectador.

    Como em qualquer comédia de esquetes, porém, o resultado é desigual.

    James Brolin ("Pensacola") e Dianne Wiest (a mais antiga das musas de Woody Allen) estão excelentes como o casal mais velho ainda apaixonado, eventualmente surpreendido fazendo sexo pelos filhos. Fazem graça com a inversão de papeis: é uma família na qual os pais são mais jovens que os filhos, libertados de obrigações como contas, empregos e crianças para criar.

    Colin Hanks interpreta o pai de um recém-nascido. Às voltas com uma nova rotina ao lado da mulher (Zoe Lister Jones) na qual falta sono e sobram fraldas, é capaz de se deixar ser preso apenas para descansar um pouquinho (quem passou por essa fase vai se identificar).

    Hanks, filho de Tom Hanks, segue assim seu bom momento, iniciado com o policial viúvo da primeira temporada de "Fargo". Ter ganho as melhores falas ajuda, mas seu timing é preciso, e a companheira de cena está em sintonia.

    Thomas Sadoski, de "Newsroom", é o filho que tenta engatar um namoro, o sujeito meio "loser" que volta a morar com os pais após o divórcio, que está machucado mas ainda tem fé. Nada novo aqui.

    E, no núcleo mais fraco dos quatro, Betsy Brandt (a Marie de "Breaking Bad") vive a filha mandona com um marido abobalhado (Dan Bakkedahl, de "Projeto Mindy"), mãe de um adolescente, uma pré-adolescente e uma menininha. Julie Bowen e Ty Burrell fazem um trabalho muito melhor em "Modern Family" com a mesma proposta (eis o "índice Big Mac" em ação).

    Não há nada especial sobre os Short, não há diversidade étnica/sexual, não há riqueza ou pindaíba, não há crimes ocultos nem desfecho a esperar. Não há nenhuma grande pretensão na sitcom de Justin Adler. Mas ela pede pouco do espectador: cinco minutos e identificação.

    'Life in Pieces' é vendida no iTunes/EUA e na Amazon

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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