• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 10:13:51 -03
    Luciana Coelho

    MTV faz de série inspirada em livros 'Shannara Chronicles' angu indigesto

    16/01/2016 17h08

    Pegue qualquer livro de J.R.R. Tolkien, misture com o filme "Avatar". Junte a saga "Crepúsculo", "Game of Thrones", "Jogos Vorazes" e "Harry Potter". Carregue os diálogos de açúcar e clichês adolescentes, inclua modorrentas explicações e entregue aos piores atores disponíveis (desde que bonitinhos).

    Se ainda parecer interessante, chame uma equipe bacana de efeitos digitais e estrague seus méritos com uma direção de arte equivocada. Não tenha medo dos fãs da trilogia literária original. Tampouco tenha medo dos críticos. Seja ambicioso na campanha de promoção.

    Divulgação
    Poppy Drayton (à esq) e Ivana Baquero como a princesa élfica Amberle e a humana Eretria em cena de "Shannara Chronicles", da MTV
    Poppy Drayton (à esq) e Ivana Baquero como a princesa élfica Amberle e a humana Eretria em cena de "Shannara Chronicles", da MTV

    Seguida à risca, essa receita torna "The Shannara Chronicles", série de fantasia em dez episódios recém-lançada pela MTV nos EUA, uma experiência excruciante para o espectador, tentado com uma vasta oferta de coisas melhores para fazer com seu tempo. Foram só quatro episódios até agora, mas há pouca esperança de reversão de rumo.

    "Shannara" acompanha as agruras da princesa Amberle (Poppy Drayton), uma elfa com ímpeto guerreiro, e do acanhado Wil (Austin Butler), o improvável herói meio-humano/meio-elfo para levar a semente de uma árvore mágica a um lugar seguro.

    Renascida, a árvore moribunda poderá continuar a dar proteção contra criaturas maléficas que assolam elfos, humanos, trolls e duendes (é pré-requisito gostar do gênero). No caminho, há o demônio milenar, o rei sábio, o mentor solitário, a trambiqueira de bom coração, o guerreiro ambicioso e tudo que você já viu antes em versão melhor.

    A série se baseia na série de livros lançada nos anos 1980 pelo escritor americano Terry Brooks, devoto confesso de Tolkien. Seus personagens, infelizmente, são arremedos daqueles criados pelo inglês para povoar a Terra Média, e não ajuda em nada a tentativa da MTV de adaptá-los para o público teen.

    É comum, em ficção e sobretudo fantasia, certo grau de referências cruzadas, inspiração e homenagem.

    "Shannara" —a série de TV— leva isso ao extremo, achatando qualquer aspecto possivelmente interessante da trama aos clichês mais surrados do gênero, com personagens que são, em seus melhores momentos, fiapos pálidos de Bilbos, Bellas, Voldemorts e daqueles seres azuis que James Cameron teve a pachorra de colocar nas telas.

    E esse nem é o maior problema.

    "A boa fantasia sempre espelha o mundo em que vivemos", disse Brooks em texto para promover a série.

    Ele tem razão: é assim em "Game of Thrones", "Senhor dos Aneis", "Harry Potter", todos alegorias de seu tempo, goste-se ou não.

    A tentativa de "Shannara" nesse sentido, contudo, é insistir em versões tatibitate do movimento ambientalista e do feminismo.

    Tudo isso seria passável se a produção garantisse algum momento de diversão. Mas o texto rocambolesco e as atuações cheias de caras e bocas tornam impossível manter a atenção —erro fatal numa série que mira o público mais jovem.

    "The Shannara Chronicles", da MTV, é vendida nas lojas americanas do iTunes e da Amazon

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024