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    Luciana Coelho

    Retorno de Sherlock Holmes em especial decepciona

    20/02/2016 17h15

    Um dia chega o momento em que o espectador contumaz, após ter visto dezenas (talvez centenas) de séries com as expectativas controladas e uma tremenda boa vontade, se decepciona com algo de que gostava muito e esperou ansiosamente para assistir. Por dois anos.

    Isso aconteceu com esta colunista, que, embora conhecesse o risco, jamais esperava que a decepção viesse pelas mãos de Sherlock Holmes. Porque a decadência costuma ser gradual e não repentina, porque é um personagem clássico testado e retestado pelo tempo, porque a produção é cuidadosa e porque o elenco merece louvores, talvez por tudo isso, o tombo foi bem maior aqui.

    Robert Viglasky/Hartswood Films and BBC Wales/ Divulgação
    Martin Freeman e Benedict Cumberbatch em cena do especial "Sherlock Holmes: A Noiva Abominável"
    Martin Freeman e Benedict Cumberbatch em cena como dr. Watson e Sherlock do especial "Sherlock Holmes: A Noiva Abominável"

    O especial da BBC "Sherlock Holmes: A Noiva Abominável", que em alguns países estreou nos cinemas e que por aqui está disponível em DVDs (R$ 29), não chega perto dos nove episódios anteriores, exibidos em 2010, 2012 e 2014.

    A ideia de construir um paralelismo temporal entre o fim do século 19 (período em que as histórias originais de Arthur Conan Doyle começam) e os tempos atuais (em que se passa a versão repaginada da BBC) seria uma grande sacada para os fãs se o artifício não fosse executado de maneira tão... truqueira.

    A ideia da história dentro da história que conduz o episódio especial, com a explicação de que lança mão (vale aqui um esforço para evitar spoilers), é batida. Uma série calcada em roteiros tão inteligentes, ainda que esquemáticos, merecia uma solução menos óbvia.

    O herói vivido por Benedict Cumberbatch se vê às voltas com a figura fantasmagórica de uma noiva assassina, assombração antiga de uma onda de crimes nunca resolvida que, à primeira vista, traz um quê de sobrenatural completamente estranho à série.

    As idas e vindas temporais, porém, as porções oníricas e a perpétua oposição entre Sherlock e seu inimigo Moriarty (Andrew Scott) aqui são costurados de maneira preguiçosa e desdenhosa com a inteligência do espectador.

    O episódio tem seu quê jungiano, e há um apelo forte à memória -fãs assíduos vão preencher lacunas da segunda temporada-, mas ele não basta para garantir o entusiasmo do público. Metalinguagem, quando usada em doses sutis, é um bônus, mas aqui errou-se a mão e ela se tornou um fardo.

    Faz falta também uma participação mais ativa do dr. Watson de Martin Freeman, que sempre foi o ponto de equilíbrio do programa.

    Mark Gatiss, o pai da série (e também o intérprete de Mycroft Holmes) anunciou este especial como ponto de virada para os personagens, que devem voltar em nova temporada no ano que vem.

    Se assim for, a expectativa é ruim.

    E dadas as agendas lotadas dos dois atores principais no cinema (e em outras séries de TV), a perspectiva de uma quinta temporada é pequena. Seria um fim triste para um projeto dramatúrgico tão bom.

    "Sherlock Homes: A Noiva Abominável" está à venda em DVD (R$ 29) e no iTunes

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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