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    Luciana Coelho

    Judd Apatow expõe sua versão doce e doída do amor em 'Love'

    27/02/2016 17h13

    Mais amor, por favor?

    Nos últimos meses tivemos "You Are the Worst, "Billy & Billie, "Master of None, a cancelada "A to Z", "Crazy Ex-Girlfriend e tudo que vem antes, do novelão "Grey's Anatomy" ao (lindo) folhetim "Downton Abbey". Será que a TV precisa de mais uma série sobre idas e vindas de um casal?

    Judd Apatow, 49, acha que sim. Lançou há uma semana "Love" (Netflix), uma série em dez episódios sobre os encontros e desencontros de um par que mal consegue encontrar/entender a própria personalidade, que dirá a do outro.

    Divulgação
    Os atores Paul Rust e Gillian Jacobs em "Love", de Judd Apatow
    Os atores Paul Rust (Gus) e Gillian Jacobs (Mickey) em "Love", série de Judd Apatow na Netflix

    Como tudo que tem a mão de Apatow, "Love" é doce, sarcástico, deprimente, nonsense, tem texto acima da média e trilha sonora ótima (Eddie Vedder, Wilco, como pedir mais?). Há bons convidados na frente das câmeras (Andy Dick, de "Newsradio" -se você tem estrada em séries o suficiente para se lembrar) e atrás (Steve Buscemi dirige um episódio; John Slattery, o Roger de "Mad Men", dirige dois).

    O humor de Apatow, porém, tão afiado em "O Virgem de 40 Anos" (2005) e "Ligeiramente Grávidos" (2007), não é suficiente para surpreender ou rejuvenescer o batido rapaz-conhece-moça, moça-é-complicada, rapaz-se-apaixona, moça-mete-os-pés-pelas-mãos, moça-se-apaixona, rapaz-mete-os-pés-pelas-mãos (e o final você conhece).

    O que vale na série é como Apatow, cujo foco tem sido há anos jovens adultos com dificuldade em amadurecer, vai desfiando seus personagens, camada a camada, erro a erro, insegurança a insegurança. Nesse poço de egoísmo, o produtor conseguiu filmar uma das cenas de sexo mais melancólicas da TV.

    O lado feminino da equação é Mickey (Gillian Jacobs, de "Community"), uma produtora de rádio com dificuldades para controlar impulsos, empenhada em parecer mais "cool" do que realmente é. O lado masculino cabe a Gus (Paul Rust, corroterista com Apatow e Lesley Arfin, mulher de Rust), o professor de uma estrela-mirim cuja maturidade se equipara à da aluna de 12 anos.

    Ele é nerd, ela é descolada a ponto de ser cansativa, os dois são emocionalmente arredios. Nada diferente de gente que você conhece por aí, e talvez seja assim que a série te fisgue.

    Entre os coadjuvantes, brilha apenas Claudia O'Doherty, uma comediante australiana de timing cômico bem ajustado, como Bertie, a roommate de Mickey. Como de costume, Apatow convoca a família para o set, mas desta vez a segunda geração: Arya, a atriz-mirim tutorada por Gus, é vivida por Iris, sua filha com a atriz Leslie Mann.

    Se o humor descarado do produtor se recolhe um pouco, o seu olhar sincero sobre uma determinada fatia da geração Y, aquela na casa dos 20 e muitos ou 30 e pouquinhos, segue arguto e pode ser mais bem explorado nas quase sete horas de "Love" do que nas comédias.

    A visão de Apatow do amor não é nova, ainda que muito contemporânea. O apelo que tem, pelo contrário, emana de sua doce -e dolorida- familiaridade.

    Veja o trailer de "Love"

    "Love" está disponível na Netflix

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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