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    Luciana Coelho

    'Better Call Saul' triunfa na viagem e esconde resposta em fim de temporada

    09/04/2016 16h13

    Vince Gilligan, o homem que deu ao mundo "Breaking Bad" (2008-2013), é um sujeito engenhoso. Mas construir uma estrutura sólida para levar a algo que já existe e é reverenciado, como ele propôs fazer ao lançar "Better Call Saul" como um prefácio de sua série mais famosa, exige, além de habilidade, muita paciência. E, muitas vezes, a viagem é melhor que o ponto de chegada.

    A dois episódios de encerrar a segunda temporada da série mais nova, porém, fica cada vez mais difícil entender como o Jimmy (Bob Odenkirk) que protagoniza "Better Call Saul" se transformou no Saul Goodman que dá título à série e que serve de guarida jurídica para o narconegócio de Walter White (Bryan Cranston) em "Breaking Bad".

    Ben Leuner/Netflix
    Jonathan Banks (esq.) e Bob Odenkirk na segunda temporada de "Better Call Saul"
    Jonathan Banks (esq.) e Bob Odenkirk na segunda temporada de "Better Call Saul"

    Talvez esse não seja o objetivo central de "Saul".

    Gilligan, que pede "um passo de cada vez", comparou em recente entrevista à revista "Hollywood Reporter" sua tarefa à construção de uma "ferrovia transcontinental que começa em 'Breaking Bad' e termina em 'Better Call Saul'".

    (Sim, é isso —o autor insinuou que a série atual pode trazer mais elementos do epílogo da original, a partir de suas cenas iniciais que mostram Saul/Jimmy em uma loja de pães doces em Omaha).

    O trabalho que Gilligan e equipe estão fazendo, e que seguirá para uma terceira temporada, é delicado. Envolve exatamente o caminho inverso do tomado em "Breaking Bad", série de ritmo frenético em que um personagem originalmente bom é corrompido aos poucos.

    Em "Saul", o tempo é outro, um paralelo de ritmo lânguido como os acordes tocados semanalmente na abertura da série. Saul, um personagem adorável, mas totalmente vil na obra original, aos poucos é revelado como alguém gentil, doce, esforçado e com talento para defender gente carente, e não criminosos. Tem direito até a par romântico (a ótima Rhea Seehorn, como Kim).

    Aqui, porém, já se sabe qual o destino do protagonista, a pergunta é como ele o encontrará. Com Walter White, o destino era desconhecido, mas o caminho ladeira abaixo ficava cada vez mais claro.

    Esse passo lento e insinuante é o trunfo desta segunda temporada, cujos dez episódios a Netflix tem posto no ar, um a um, a cada terça.

    Esperar pela próxima cara conhecida a surgir —a mais frequente é a de Mike (Jonathan Banks), em sua própria estrada rumo ao inferno pessoal— é como montar um enorme quebra-cabeças, um do qual se conhece bem o tema, mas não exatamente a cena que ele revelará.

    Perguntarmo-nos se chegaremos de volta a Walter White, se saberemos mais do que aconteceu após a inesquecível última cena de "Breaking Bad", é apenas um incentivo.

    Na ferrovia transcontinental construída meticulosamente por Gilligan, a atenção à paisagem, à beleza das cenas, ao caráter daqueles que por ali passam, é a maior das recompensas.

    O último episódio da segunda temporada de "Better Call Saul" vai ao ar no dia 19, terça, na Netflix

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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