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    Luciana Coelho

    Nem estrelas nem Shonda Rhimes salvam 'The Catch'

    04/06/2016 17h13

    Quando a ShondaLand, produtora de Shonda Rhimes ("Grey's Anatomy", "Scandal","How To Get Away With Murder" ), aparece nos créditos com um elenco encabeçado por Mireille Enos ("The Killing") e Peter Krause ("A Sete Palmos"), a aposta é da gigante da TV aberta americana ABC e o enredo trata de vigaristas classudos, espera-se um espetáculo.

    A promessa de "The Catch" (expressão com sentido tanto de "bom partido" como de "captura"), cuja primeira temporada está no ar no Brasil pelo Canal Sony, porém, é tão grande e ostensiva que não decola.

    Enos, consagrada pelo papel da árida detetive Sarah Linden em "The Killing", aperece aqui quase como uma sub-versão de Sarah Jessica Parker em "Sex and the City" (um dos criadores da série participou da produção do finado drama da HBO).

    Divulgação
    Mireille Enos como a detetive particular Alice Vaughan na série "The Catch"
    Mireille Enos como a detetive particular Alice Vaughan na série "The Catch"

    Não que Enos, talentosíssima, não possa interpretar uma femme fatale poderosa a despeito de seus traços pouco convencionais. Mas ela parece desconfortável demais entre as caras e bocas da detetive particular Alice Vaughan, alvo de um golpe do próprio noivo (Krause).

    Ao contrário das outras personagens saídas da cabeça de Rhimes ou dos produtores que com ela trabalham, como a Annalise de Viola Davis, a Olivia de Kerry Washington e até a chorosa Meredith Grey de Ellen Pompeo, Alice/Enos nunca parece no controle da situação.

    Como a série é construída para que ela irradie poder, a frustração torna o drama enfadonho (algo que a montagem e os figurinos excessivamente cuidadosos contrapostos a cenas de sexo cafonas enfatizam).

    Krause, como o vigarista Ben Jones, se esforça, assim como o resto do elenco —notadamente, Rose Rollins como a sócia de Alice, Val (o marido da personagem é vivido por Alan Ruck, marido de Enos na vida real e o eterno Cameron de "Curtindo a Vida Adoidado", lembrando-nos que envelhecemos).

    Cada um dos dez episódios segue uma linha central amparada na dinâmica de Alice e Ben (ora ela quer se vingar, ora ela se derrete) e secundária, com desfecho em 40 minutos, normalmente um caso da agência de detetives que ela dirige.

    A ABC já encomendou outra temporada, mas é preciso melhorar o roteiro para deixar os personagens crescerem e a história engrenar.

    "The Catch", afinal, agora tem a missão de estancar a queda de audiência das séries da ShondaLand em tempos de TV na internet.

    "Grey's" estreou em 2005 com audiência de 16 milhões; "Scandal", em 2012, com 7 milhões, mas ganhou fôlego e fez "Murder" conquistar 14 milhões de espectadores dois anos depois, lembra a "Variety". Já "The Catch" teve menos de 6 milhões na estreia —número tímido na TV aberta dos EUA— e plateia minguante.

    A produção televisiva mudou, sobretudo no quesito ousadia. Para uma fórmula antiga vingar, não só os componentes devem ser impecáveis como seu uso precisa ser correto, sem excessos. Salvo um e outro momento divertido, não é o caso.

    'THE CATCH' é exibida às quintas, 21h, no Canal Sony

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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