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    Luciana Coelho

    'Stranger Things' acerta com nostalgia e Winona Ryder, mas falta surpresa

    10/07/2016 02h05

    Nostalgia parece ser a nova aposta do Netflix, hoje bem estabelecida como produtora e distribuidora multiplataformas de conteúdo em vídeo graças a sua ousadia em apostar em um modelo novo de televisão e em enredos audaciosos como os de "House of Cards" e "Orange Is the New Black".

    É como se, após tanta inovação, o espectador precisasse descansar, trocando o provocativo e instigante pelo conforto do que lhe é familiar.

    Há dois jeitos de fazer isso.

    Divulgação
    Cena da série sobrenatural da netflix Stranger Things com Winona Ryder ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A atriz Winona Ryder é uma das protagonistas de "Stranger Things", da Netflix

    O primeiro, mais óbvio, é ressuscitando séries queridas —"Arrested Development", "Full House" ("Fuller House", na nova versão) e, em breve, "Gilmore Girls", todos revividos pelo serviço on-line com variados graus de sucesso.

    O outro é recriar a atmosfera de outra década em uma série original.

    É esse o coração de "Stranger Things", uma série em oito episódios que mistura elementos centrais dos filmes dos anos 80 (o terror de apelo sobrenatural e o drama sobre o fim da infância e a chegada da adolescência) e resgata do imaginário de quem cresceu naquela década ou no início da seguinte dois nomes que andavam meio perdidos: Winona Ryder e Matthew Modine.

    A série, que estreia nesta sexta (15) já com todos os episódios disponíveis, explora os fenômenos sobrenaturais que envolvem o desaparecimento do garoto Will Bayers em uma cidadezinha de Indiana, Estado do miolo dos EUA, em 1983.

    O sumiço de Will vai repercutir tanto em sua família —na mãe, Joyce (Ryder) e no irmão, Jonathan (Charlie Heaton)— quanto em seus amigos próximos, ansiosos por uma boa aventura.

    Não só a reconstituição de época em cena é fiel como o modo de conduzir a história, que alterna situações "Goonies" (1985) a momentos "Poltergeist" (1982), emula um tipo específico de narrativa e estética que parece já não ter lugar entre produções sofisticadas e pretensiosas que competem semanalmente pela atenção do espectador e pelo título de melhor coisa na TV (ou on-line).

    Essa ingenuidade é bem-vinda, mas por si só não consegue segurar a produção. Após um encantamento inicial, a história parece conhecida e previsível, como visitar um lugar querido da infância e descobrir que, na verdade, ele é bem menor e desenxabido do que aquilo que a memória guardava.

    O que a princípio parece acanhamento se revela uma tremenda ambição, inatingível para os criadores da série, que imodestamente assinam como "irmãos Duffer" -Matt e Ross- embora seu currículo se resuma a alguns curtas e o roteiro da decepcionante "Wayward Pines" (há muito em comum entre as duas, talvez demais). Nada que remeta a Coens, Dardennes, Wachowskis e nem mesmo Wayans.

    Winona Ryder está bem, Matthew Modine também, e o numeroso elenco infantil merece aplausos. Talvez as crianças de hoje, porém, já não se entretenham com esse tipo de história, e os adultos mereçam mais.

    *'Stranger Things*' estará disponível na Netflix dia 15

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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