• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 00:31:32 -03
    Luciana Coelho

    Sem Jack Bauer como protagonista, '24: Legacy' apenas diverte

    05/03/2017 02h00

    Divulgação
    Corey Hawkins vive Eric Carter na sequência de "24 Horas" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Corey Hawkins vive Eric Carter na sequência de "24 Horas"

    Jack Bauer gritando "DROP THE GUN!" ("largue a arma!") faz falta, mas "24: Legacy" surpreende positivamente o espectador incrédulo de que uma série de ação de sucesso que representou tão precisamente o espírito político de seu tempo possa ressuscitar.

    O thriller, que a Fox estreou no mês passado, usa a mesma temática e a estrutura que fez de"24 Horas" (2001-09) revolucionária: a ação em tempo real, marcada por um relógio que ressurge a cada intervalo (a missão, agora, é impedir que uma organização terrorista acione células dormentes em solo americano para produzirem atentados simultâneos).

    A tarefa de suceder o agente vivido por Kiefer Sutherland é dividida por Corey Hawkins ("Straight Outta Compton"), como um ex-militar de elite, e a australiana Miranda Otto ("O Senhor dos Anéis"), como uma ex-diretora da CTU, a unidade de contraterrorismo que empregou Bauer.

    Mesmo Hawkins e Otto sendo melhores atores do que Sutherland, entretanto, é difícil esperar que um dos dois seja alçado ao panteão pop de forma tão permanente.

    Parte do sucesso do personagem original se deve ao timing de sua concepção, nos primeiros meses da chamada guerra ao terror lançada pelo governo George W. Bush após o 11 de Setembro.

    Bauer não encarnava apenas o herói americano que salvaria o mundo em um momento quase sebastianista. Ele expunha os meios pelos quais os EUA pretendiam atingir seu objetivo, suscitando anos de debates que permearam de conversas de bar a aulas em universidades, além do imaginário popular.

    Recriar esse casamento singular de drama e realidade é um risco. A nova produção, aliás, não é considerada nem continuação nem revisitação, e sim uma série nova inspirada na anterior. Com o horizonte político mais nublado, é esperado que a linha dramatúrgica de "24: Legacy" seja menos maniqueísta do que a versão original.

    A produção já estava fechada quando a eleição presidencial culminou com Donald Trump na Casa Branca. Ainda assim, o debate sobre contraterrorismo não apenas é atual como é necessário novamente.

    Versões de fatos como o assassinato de Bin Laden e os irmãos de origem tchetchena que explodiram uma bomba na maratona de Boston em 2013 foram incorporadas ao roteiro. A história, que já exibia um presidente negro antes de Obama ser eleito, desta vez apresenta um candidato latino (Jimmy Smits, quase reprisando o papel de "West Wing").

    Contudo, apesar de agora ter uma mulher e um negro nos papeis principais (em dado momento, o personagem de Hawkins quer ser preso e diz que não vai ser difícil: "afinal, sou um negro parado na esquina"), estereótipos desgastados persistem, atraindo críticas sobre sua adequação ao momento atual.

    Com cinco dos 12 episódios no ar, "24: Legacy" não tem, ainda, o fôlego da original. Mas fez o suficiente para manter o espectador intrigado e divertir. E pode fazer mais.

    *

    "24: Legacy" é exibido pela Fox todas as quintas, à 0h, e está on-line no foxplay

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024