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    Luciana Coelho

    Baseada em Neil Gaiman, 'American Gods' viaja pela psique dos EUA

    21/05/2017 02h00

    Tarefa hercúlea é adaptar Neil Gaiman para a TV, dada a densidade de seus personagens, a riqueza visual proposta e o conjunto intrincado de narrativas nas quais ele costuma lançar mão de história, filosofia e alegorias das mais sutis às mais óbvias. É por isso que "American Gods", série do canal americano Starz que a Amazon traz ao Brasil, cria tanta expectativa.

    Ainda em seu terceiro episódio –a Amazon está colocando um capítulo por semana em sua plataforma por assinatura Prime Video–, é impossível dizer quão bem-sucedida será a transfusão do livro lançado em 2001 para a tela.

    É reconfortante, porém, que o próprio Gaiman tenha colaborado no roteiro, concebido por Bryan Fuller e Michael Green. Ambos têm reputação respeitável, Fuller na TV, com a excelente "Hannibal" e as mordazes "Pushing Daisies" e "Dead Like Me", e Green no cinema, com os roteiros dos recentes –e aplaudidos– "Logan" e a nova encarnação de "Alien" (2017), além da produção de "Heroes" e "Smallville".

    Divulgação
    Gillian Anderson (Mídia) e Bruce Langley (Tech Boy) em 'American Gods
    Gillian Anderson (Mídia) e Bruce Langley (Tech Boy) em 'American Gods'

    A combinação entre o soturno e sangrento de Fuller e o fantasioso e heroico de Green é bem o que pede "American Gods", uma incursão pela mitologia americana, como o título propõe, e também pela psique (nem sempre saudável) do país.

    A viagem literal e figurada é conduzida por Shadow Moon, presidiário atormentado por pesadelos que, ao ser solto após três anos na cadeia, descobre que a vida que ele queria retomar já não existe. O lindo Ricky Whittle, ator de "Os 100" que dá vida ao personagem, é o elo fraco da série, incapaz de dar a Shadow as nuances do personagem.

    Seu coprotagonista é o Wednesday (o ótimo Ian McShane, versado em vilões), homem sombrio e misterioso que ele conhece no voo de volta e o contrata como guarda-costas. Os dois cruzarão os EUA de carro, reconectando-se com os tais deuses do título, criaturas sobrenaturais que vivem hoje entre humanos.

    Trata-se de realismo fantástico, apelando à premissa filosófica de que as coisas existem a partir do momento em que alguém nelas crê.

    Trata-se também de um debate bem mais terreno e atual sobre o confronto entre o velho e o novo, sobre as formas de adoração antigas e as mais modernas, invariavelmente representadas pela tecnologia, e a quem nós, humanos, confiamos as respostas à nossas angústias.

    Deuses Americanos
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    Na imaginação de Gaiman esse embate se desenha entre antigas divindades africanas, irlandesas e nórdicas/teutônicas que forjaram um tanto da índole dos EUA e as formas de tecnologia que aos poucos assumem seu lugar, entregues a um elenco que inclui Gillian Anderson, Crispin Glover, Peter Stormare, Orlando Jones e Pablo Schreiber.

    O risco é a riqueza da trama do livro se perder em uma roteirização rocambolesca, na qual as perguntas são abertas e nunca respondidas (há nova temporada prevista), como aconteceu recentemente com "Westworld" (HBO), em que a ambição resultou apenas em bocejos.

    "American Gods" terá seus dez episódios publicados no Prime Video da Amazon às segundas

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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