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    Luciana Coelho

    Filhote de 'Big Bang Theory', 'Young Sheldon' sofre do mal do sucesso

    01/10/2017 02h15 - Atualizado às 14h14

    Releituras, derivações e refilmagens são terreno pedregoso para a ficção, no qual o único norte costuma ser a ânsia por lucro/sucesso da produção original. Poucos sobrevivem com dignidade, e "Young Sheldon", série derivada da popular "The Big Bang Theory" que acaba de estrear nos EUA e chega ao Brasil em novembro, no domingo (12), parece estar longe, no momento, dessa estreita casta.

    Divulgação
    Iain Armitage como Sheldon Cooper aos 9 anos na estreia de 'The Young Sheldon
    Iain Armitage como Sheldon Cooper aos 9 anos na estreia de 'The Young Sheldon'

    A aposta não pode ser condenada: os índices de audiência estão lá, comprovando que a fórmula fácil tem seu porquê (foram quase 21 milhões de espectadores na estreia americana, na segunda; a volta de temporada da série-mãe, maior sucesso atual da TV, bateu 17 milhões).

    O problema é a execução.

    Não que Iain Armitage na pele do protagonista, um nerd misantropo que cativou o público em "BBT", não seja adorável. Ele é (e talentoso, também, algo comprovado pela atuação em "Big Little Lies", na qual faz o filho de Shailene Woodley). Raegan Jordan, a irmã gêmea Missy, também é uma atriz mirim bem acima da média com suas tiradas rápidas e uma mordacidade rara em idade tenra.

    Mas para além desse elenco mirim, a série de Chuck Lorre não consegue, em seu episódio-piloto (o único exibido até agora) dizer a que veio. Conhecemos a família de Sheldon Cooper e suas dificuldades em se ajustar ao mundo, e o que mais?

    "Big Bang Theory" cresceu na onda de anti-heróis que tomou a TV na última década; sua turma de gênios socialmente desajustados e mal-aceitos tem o mérito de expor algo do público em caricatura, oferecendo a recompensa da identificação.

    É uma versão mais rasa e pasteurizada, mas não tão distinta em objetivo, de um "Seinfeld" ou um "Breaking Bad", que nos fazem torcer em momentos torpes e rir das nossas pequenezas.

    A isso, some-se as pinceladas adocicadas da grande TV aberta e suas comédias de claque, algumas piadas muito bem escritas visando um público específico e a invertida na perene cultura do perdedor X vencedor que vigora nos EUA.

    Já "Young Sheldon" não diz a que vem. É uma série sobre adolescer, um "Anos Incríveis" ou um "Malcon in the Middle", explorando aquela sensação de desconforto? É uma série-família típica, numa subescala de "Modern Family"? É uma viagem oitentista com referências de época —o jovem Sheldon, aos 9 anos, cresceu nos anos 80/início dos 90—, na cola de "Stranger Things"?

    Não sabemos. O que fica do primeiro episódio, com um elenco de apoio anódino e um texto idem, é a fofura de Armitage e a perspicácia de Raegan Jordan, acompanhada de uma narração estranhamente contida do próprio Jimmy Parsons (o Sheldon adulto em "BBT") e de um roteiro preguiçoso.

    A inércia, aliás, parece ser a justificativa plausível para manter "Big Bang Theory" no ar por uma 11ª temporada (e "[uma 12ª por vir em 2018]':http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/03/1868223-serie-the-big-bang-theory-e-renovada-por-mais-duas-temporadas.shtml) e produzir "The Young Sheldon" por mitose.

    Mas, sejamos otimistas, foi apenas um primeiro episódio. Se fosse para julgar a genial "Seinfeld" por seu piloto, o veredicto seria tão cruel quanto injusto.

    'The Young Sheldon' estreia no Brasil no domingo (8), às 22h25, no Warner Channel

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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