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    Luciana Coelho

    David Fincher retoma obsessão por psicopatas em 'Mindhunter'

    13/10/2017 18h05

    Regozijai-vos, fãs de David Fincher. A bem-sucedida parceria entre o diretor e a Netflix, iniciada nos episódios de estreia de "House of Cards", cresce em "Mindhunter", drama psicológico sobre os primórdios da afeição do FBI pela investigação comportamental de criminosos que estreou nesta sexta (13).

    A sobriedade e meticulosidade do diretor, encarregado dos dois primeiros e dois últimos episódios da temporada de estreia da série (ao todo são dez, e haverá outra em 2018) revestem de uma elegância rara a história que em outras mãos poderia virar um arremedo de "True Detective".

    Treinada no timing preciso da direção de videoclipes (são dele "Vogue", da Madonna, e "Freedom! 90", de George Michael), sua batuta firme e diligente nos conduz pela crescente ansiedade dos personagens centrais –como já havia feito em obras anteriores– em busca da perspectiva e das razões dos responsáveis por crimes chocantes.

    Assim, no roteiro afinado de Joe Penhall em cima de livro homônimo de John Edward Douglas, o que parece leve e trivial rapidamente se mostra denso e surpreendente; se o protagonista, Holden (Jonathan Groff, da boa e finada "Looking" ) parece primeiro imaculado e raso como uma folha de papel em branco, é porque absorverá mais rápido as torpezas do caminho.

    Com Holden e o inevitável parceiro mais experiente, Bill (Holt McCallany), vai o espectador conhecer gente que estrangula, empala, decapita e é afeita à necrofilia com uma curiosidade movediça, em uma época (é 1977) em que crimes em série repletos de detalhes atordoantes capturaram o imaginário americano.

    De cidade em cidade onde os protagonistas ministram cursos sobre o então nascente departamento de ciência comportamental do FBI, expõem-se fraquezas e cantos obscuros do instinto humano, sempre sob uma névoa que confunde realidade de invencionice e nos faz duvidar da inteligência dos heróis, sobretudo diante do matador Ed (Cameron Britton).

    Não havia sido diferente na maior parte da obra de Fincher, cravada de mocinhos ingênuos e atônitos diante de circunstâncias chocantes que beiram a fantasia.

    Mindhunter - O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano
    John Douglas, Mark Olshaker
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    Ele criou o investigador feito por Brad Pitt em "Seven" (1995); o banqueiro de Michael Douglas em "Vidas em Jogo" (1997); o burocrata de Edward Norton em "Clube da Luta", sua obra-prima (1999); a mãe zelosa de Jodie Foster em "Quarto do Pânico" (2002); o inspetor de Mark Ruffalo em "Zodíaco" (2007) e o marido tolo de Ben Affleck em "Garota Exemplar" (2014).

    Ainda que sua elegância os tire do óbvio, interessam menos seus filmes com mensagens positivas, "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008) e "A Rede Social" (2010) –estes, vejam só, reconhecidos com indicações ao Oscar.

    A coluna só teve acesso, antes de ser concluída, aos dois primeiros episódios de "Mindhunter". Das mãos de Fincher, contudo, não dá para desconfiar. Se ele merece como poucos ter a obra toda enumerada, é porque nela não há sobras.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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